sábado, 11 de janeiro de 2020

A CESTA DA MINHA AVÓ


A CESTA DA MINHA AVÓ



A cesta feita de tiras de bambu,

cheia de entrelaçamentos,

 rústica,

contém os gestos mais nobres de uma família.

No vai e vem de suas viagens,

levou alimentos.

Lá iam o feijão com arroz, uma mistura, pão e café.

Era levada pelas mãos de meu avô.

Nonno caminhava pelas trilhas

traçadas pelos animais.

Às vezes, a charrete ou a carroça a portava .

Levava a comida , o almoço para alimentar os filhos, os meus tios.

 Com suor nos rostos e mãos calejadas do trabalho da roça,

paravam com seus afazeres ao mirarem de longe a cesta chegando.

Mesmo com as mãos não bem limpas,

 sentavam –se sob os pés das mangueiras,  jabuticabeiras,

touceiras de bambu.

Em época de chuva,

Protegiam-se em  um pequeno rancho improvisado,

 uma casa abandonada,

Alí, eles tocavam na cesta e

 se alimentavam da comida feita com carinho

 pelas mãos de vovó.

Era o néctar dos deuses,

 tomavam um gole de café,

dormiam um pouquinho  e,

 tudo começava de novo.

Essa cesta também levava de tanto em tanto

 queijo, feijão, verduras, linguiça,

 coisas gostosas para alimentar a minha bisavó.

 De filha para mãe,

 como forma de agradecimento,

ela balançava nas mãos de minha nonna até o seu destino final,

 um ritual .

Hoje a cesta está debaixo do telhado do meu pai,

 cheia de buchas.

 Perdeu sua beleza,

 as bordas se desfizeram,

mas ela aindaguarda o segredo de minha avó.

Só sabem aqueles que a viram ir e voltar dos lugares.

Ela contém os laços de várias famílias,

Bisnonna, nonni, filhos e netos.

O seu encanto encontra-se na memória de quem a acompanhou.



Vera Lúcia Grando

São Paulo 09/01/2020


Nenhum comentário: