quinta-feira, 21 de agosto de 2014

FALAR DA MORTE,É FALAR DA VIDA!


FALAR DA MORTE, É FALAR DA VIDA!
Max Willian


 

Em uma de minhas aulas, em uma das escolas estaduais em que leciono, o assunto “morte” – de mansinho – surgiu. Ele não brotou de modo rebuscado, polido e acadêmico. Mas, no doce falar de quem mal opina, questiona ou impõe-se em determinados assuntos debatidos em sala de aula. Daquela vez foi diferente!

A garota levantou a mão educadamente e disse: “professor, não gosto do assunto morte, pois ele causa-me – sempre que penso – arrepios, tristeza, medo do por vir e falta de segurança”. A aluna ainda ressaltou que se soubéssemos de que maneira chegaríamos ao fim da vida, possivelmente, enlouqueceríamos. Achei incrível as suas ideias, o seu modo doce de falar e seus apontamentos sentimentais sobre esse tema tão complexo. Assim, resolvi ler, pensar, repensar e escrever sobre o assunto do fim.
 
Para isso, seremos auxiliados por duas perspectivas: a da Biologia e uma simples, porém profunda, frase de Simone de Bouvard – filósofa do século XX.

De modo geral e de acordo com a Biologia, nascemos, nos desenvolvemos, chegamos à adolescência, à fase adulta e, por fim, à velhice – isso quando nos é permitido, afinal moramos numa sociedade assustadora, criminosa e, portanto, violenta! A fase da velhice é marcada – dentre outras – pela grande proximidade da morte. Mas, o que seria a morte segundo a Biologia?


Não existe palavra sem pessoa. Não existe palavra que anda sozinha pelas ruas das nossas cidades. Muito menos, conceito. Por isso, a morte marca o fim de um ciclo de vida na pessoa. Marca o fim de um processo familiar. Marca o fim de relacionamentos em sociedade. De modo frio, tudo isso acontece quando um corpo entra em seu completo estado de decomposição.

No entanto, há intensas e acaloradas discussões biológicas que nos demonstram – talvez, até provam! – que há células que não deixam de existir, outras que servem de adubo e, por fim, células que dão vida a outros tipos de vida. Desse modo, resta-nos uma pergunta, uma vez que é necessário considerar as variáveis da Biologia: o que, portanto, define o fim da vida? O que define a morte humana?

A morte humana é definida com o fim da capacidade de utilizar a razão, a consciência. Sendo assim, define-se pela incapacidade do indivíduo de não poder mais abraçar, sentir, cheirar, beijar, se apaixonar, sonhar... Nesse sentido, morrer, também, é deixar de sonhar, beijar e o mais singelo: apalpar o outro com os ouvidos. Desse modo, a vida humana encerra-se.

Para muitos, a morte é – só de pensar – desprezível, acaba com a alegria do viver e finaliza as esperanças. Entretanto, a morte é socorro para tantos outros que estão cansados e oprimidos em vida – seja por um corpo moribundo, dilacerado, estuprado ou machucado pelos hematomas provocados e descobertos com o tempo. Daí segue a frase da filósofa Simone de Bouvard que justifica a necessidade da morte: “A morte parece menos terrível quando se está cansado”. Portanto, a morte tem a sua face positiva para os indivíduos. Ela é socorro na hora da angústia. E como é!

Mesmo tendo consciência do seu lado positivo, travamos uma constante batalha para nos distanciarmos da consciência do fim. No entanto, tal batalha é possível somente para os saudáveis de corpo e alma. Na realidade, para quem não é saudável de corpo e alma, não faz o menor sentido.

Vale ressaltar que Jean Paul Sartre disse que estamos condenados a liberdade. Quem dera fosse apenas essa a condenação. Ousa-se dizer que estaríamos felizes! Mas, o fato é que estamos condenados à máxima da morte: “és o que fomos, serás o que somos”. Por isso, breve nos ausentaremos e promoveremos saudade. Saudade é a falta que fazemos para o outro!

Portanto, se possuímos essa consciência sobre o fim da vida, por que não pensar no aqui e agora? Por que não sentir o outro com total intensidade e prazer? Por que não saborear mais as amizades, os almoços, os jantares, os vinhos, as pessoas e as amizades? Por que não apreciarmos com intensidade e compartilharmos os instantes da vida com quem amamos? Por que não deixar de brigas em muitos momentos e render-se aos poucos abraços que ainda nos restam? Por que não esquecer um pouco das bagunças da casa e apreciar o sofá de cabeça livre, sem neura? Por que não apreciar e sentir a vida com mais intensidade?

Portanto, o que achas, caro leitor, de ceder mais tempo para gozar alegremente a sua vida? Sim, doe mais tempo à sua vida. Compartilhe mais os seus instantes de vida com amigos, colegas e familiares. Sim, viva.