quarta-feira, 28 de abril de 2010

Material para estudos e avaliações


MATÉRIA DE AULA PARA ALUNOS DO CAETANO:1A, 1D,1F,1G, 2D,2E, 2F.

ORGANOGRAMA

Material produzido pela Professora Vera Lúcia Grando

LITERATURA EM PORTUGAL: INÍCIOS – Páginas de 510 a 519 do livro didático





Página 521 do livro didático





Observação: Para todos os alunos ( primeiros e segundos anos da Profª Vera)

P. 522 e 523

1-Elabore um organograma das páginas acima.

P.524 a 528

2- Em qual outro texto além de Camões, do Renascimento/Classicismo, há a narração sobre Inês de Castro?

3- Faça uma descrição da personagem D. Pedro (1320-1367) utilizando-se das sensações táteis,auditivas,olfativas,visuais e gustativas.

III- Leia as páginas 310 a 313. ( só para os alunos de segundos anos da profª Vera)

Faça as atividades das páginas 313 e 314.

REFERÊNCIA

FARACO,C.A. Português.Ensino Médio. Volume Único. Brasília,FNDE-MEC,2009.







sexta-feira, 23 de abril de 2010

Abolição

Reflexões sobre o Léxico de Abolição

Vera Lúcia Grando

Drº. em Lingüística pela USP.Professora na UNISANTOS, na UNICLAR, no IEPAC e na Rede Estadual de Ensino.

Maria Aparecida de Souza Krusique

Mestra em Lingüística pela USP. Diretora da E.E.Profa.” Ilka J. Germano”

Nestes 500 anos de Brasil , período de reflexões sobre os fatos ocorridos que nos legaram a cultura atual, é de grande valia fazer algumas considerações gerais sobre o negro escravo e o liberto.

1 - ABOLIÇÃO

Já , bem antes de 1888, ano da abolição, abriam-se no país novas perspectivas para o capital. Investir em mercadorias tipo escravo significava mau negócio, pois essa se
depreciava a olhos vistos e estava condenada a desaparecer.

A mentalidade dos fazendeiros das zonas mais dinâmicas se modificava. Não queriam mais comprar escravos, mas livrar-se deles. Esses fazendeiros eram pessoas , que por motivo de comércio ou outros já estavam integrados à vida citadina, o que prova ser o movimento abolicionista essencialmente urbano se expandindo para o campo a fim de quebrar a resistência dos ruralistas ao movimento, para com isto se conseguir a reforma desejada.

Os conflitos de abolicionistas com os mais tradicionais fazendeiros que ainda resistiam a idéia de libertação aos negros acabou, quando a igreja se manifestou oficialmente em defesa dos cativos e por uma representação dirigida à Princesa pelo Clube Militar solicitando que os destacamentos do exército fossem dispensados de capturar os negros fugidos, esses fatos contribuíram de maneira decisiva para que fosse posta em lei a extinção imediata e incondicional da escravidão.

2 – NEGROS NA CIDADE

A liberdade provoca o êxodo total do negro do campo para a cidade sem estarem preparados para enfrentar o trabalho nas indústrias e comércio, não se adaptaram, de


imediato, às exigências do novo tipo de vida, foram então se amotinando nos arredores da cidade dando origem aos mocambos e favelas, acostumaram-se aos vícios da vadiagem e do alcoolismo, tornando-se marginais da sociedade.

A abolição que antes era um tráfico de luta pela igualdade e liberdade para o negro, tornou-se o tráfico da pobreza sem futuro e sem dia seguinte. Não tinham defesa jurídica, social e econômica, pois o movimento abolicionista extinguiu-se com a própria abolição. A liberdade nesta fase assumiu o papel mais degradante possível dentro da escala social.

3 – O NEGRO NAS ARTES

No decorrer destes 112 anos de abolição, recebemos, através da história, informações sobre os costumes de diferentes tribos negreiras, descrições sobre ritos e cultos religiosos, contribuição do negro na culinária brasileira, na dança e que enriqueceu de muito o folclore, não menos deixaram de ter influência em outros setores das artes e das ciências.

O negro, mulato e mestiços não deixaram de se apresentar como grandes poetas e literatos nesse período, colaborando com a formação da cultura brasileira.Atualmente ainda tentam através das artes, conquistar o sentido de liberdade real com o resgate do sema “igualdade” num processo de superação da cor e pobreza do Negro.

Nos dias de hoje, já existe um vastíssimo elenco de negros que são cabeças atuantes nas diversas modalidades do setor artístico e esportivo, apesar de ainda serem poucas as notícias de Negros atuando substancialmente em outros setores da sociedade, ou seja: Educação, Saúde, Política, Força Armadas, Igreja e outros.

4- PRECONCEITO RACIAL E PERDA DE IDENTIDADE

A leitura de livros e de muitas revistas especializadas trazem artigos cujos depoimentos de Negros dos vários segmentos da sociedade, comentam e refletem sobre o seu maior impedimento na relação Branco e Negro sob a égide propagandista da ‘igualdade”que traz no seu bojo o preconceito racial , pedra irremovível instaurada no caminho à liberdade.

REFLEXÕES SOBRE O LÉXICO DE ABOLIÇÃO

Nestes 112 anos da abolição, a idéia da democracia racial ganhou ares de verdade incontestável, levando a sociedade brasileira a sentir-se isenta de pensar no problema étnico, uma vez que há igualdade para todos não há necessidade de fixar regras, o que desmobilizou o negro de suas ações em prol da liberdade para se organizarem e terem garantido o seu próprio pensamento.

A catástrofe disso tudo é que o Negro , no Brasil, ainda luta para conseguir sua identidade, arma importante no combate ao racismo.

A exemplo de outros países como Estados Unidos e África do Sul, onde o racismo é mais franco e totalmente aberto e que dá condições aos negros de se defenderem e lutarem contra a discriminação, o Brasil mostra ao contrário o racismo de forma implícita, onde não existe conflito aberto, é maior a dificuldade para que a discriminação seja superada.

No Brasil, quando por acaso, o negro sobe na escala social perde a sua identidade, a própria classe média negra passa a renegar a sua origem para adotar os padrões do branco, mesmo que isso acabe se revelando uma ilusão.

2000, a lideranças negras ainda estão preocupadas em conscientizar os próprios negros da importância de sua identidade, e como conseguir isto? O Negro precisa mostrar o que ele é , o que sente e o que quer, para ser respeitado pelo Branco do Brasil, caso contrário, continuarão aceitando e vivendo neste racismo difuso e mascarado que determinam as regras do jogo vigentes, cuja maior força racista é dizer que não é racista.

A propósito mencionemos o dizer do professor e lingüista francês Jacques Vigueror: “a linguagem é identidade e resistência. A palavra situa o homem entre o alfa e o ômega, entre o início e o fim. A escravidão destruiu a linguagem, fez do negro um filho de ninguém. É preciso resgatar essa identidade.”

PROCEDIMENTOS

Sem nehuma pretensão de esgotar o assunto tentaremos analisar o texto jornalístico intitulado “ O exemplo de Cruz e Souza” de Jorge Konder Bornhausen – Folha de São Paulo – 13/05/88.

Procuraremos nos basear em leituras tais como:

“O léxico da simpatia” de Mário Vilela , que desenvolve um modelo de análise semântica numa perspectiva sincrônica e diacrônica da palavra simpatia num período de 50 anos expondo a relação de significado e significante, cada vez que “simpatia” muda de sentido de acordo com a época, o texto e contexto que a insere. Mostra também a relação de polissemia, homonímia, sinonímia, antonímia, hiperonímia e hiponímia correlacionadas com seus co-hipônimos numa visão ampla , do ponto de vista, diafásico e sinfásico.

“História e lingüística” de Regine Robin nos deu parâmetros seguros para através de seu método, trabalharmos o texto tendo como base as palavras- tema, palavra- chave e palavras de caracterização.

Robin baseou-se nas definições de P. Guiraud, que definiu palavras- tema como as que representam 9% do discurso. Geralmente são encontradas em todas as frases. E é em torno delas que o pensamento se organiza; é quase impossível exprimir uma idéia sem recorrer a elas. Palavras de caracterização são as que possuem baixa freqüência e de grande restrição de sentido, sendo portanto muito precisas. Robin discorda da definição de palavra – chave dada por Guiraud, pois, considera que essa definição coloca problemas; para ele, palavra – chave é qualquer palavra que num corpus composto de subconjunto; é característica de um ou vários subconjuntos.

“Servimo-nos de livros de história de conceituados autores, dentre eles : Sérgio Buarque de Holanda, Emília Viotti da Costa, Lilia Moritz Schwarcz e outros, leituras estas que nos mostraram a caminhada do Negro desde a 2a metade do século XVI até um pouco além de 1888; a partir daí passamos a tomar conhecimento da trajetória do Negro até 1988, com leituras de revistas especializadas, pesquisas fornecidas pelo IBGE, relatórios provindos da própria comunidade negra repassados à sociedade, através de simpósios, jornais e televisão .

Levantou-se o total de palavras encontradas no texto. Dentre todas as classes, tomaram-se os substantivos contando as ocorrências de repetições e a de não repetições. Calcularam-se as percentagens de substantivos no total do texto; de substantivos de

repetições no total do texto; de substantivos excluídos nas repetições no total do texto. Em um segundo momento foram calculadas as porcentagens de substantivos de repetições no total de substantivos e de substantivos excluídas as repetições no total de substantivos.

Numa segunda etapa, tomando-se pausadamente os substantivos encontraram-se as palavras- chave, palavras-tema e palavras de caracterização , que posteriormente, foram empregadas numa relação de hiponímia.

A palavra chave é o hiperônimo, as palavras-tema são os co- hipônimos e as de caracterização são utilizadas para fazer parte do conjunto semêmico de cada co-hipônimo. Estabeleceram- se os conjuntos e analisaram-se as intersecções entre eles tendo um núcleo comum.

Como objeto de nossa análise, destacamos do texto a palavra “abolição” por ser mais abrangente e embora possa ter vários significados, ela sempre nos remeterá , em nosso contexto social, para a abolição da escravatura.

Foi feito um levantamento dos vocábulos considerando-se os sentidos conotativos, denotativos, os quais foram colocados numa tábua sêmica.

RESULTADOS

No texto, encontram-se 559 palavras com um total de 149 substantivos, dos quais há cinqüenta ocorrências de substantivos de repetição e 99 ocorrências de substantivos sem repetição.

A porcentagem dos substantivos no total do texto é de 26,65% .

A porcentagem dos substantivos de repetição no total do texto é de 8,94%.

A porcentagem de substantivos sem repetição no total do texto é de 17,71%.

A porcentagem de ocorrências de substantivos sem repetição do total de substantivos é de 66,44%.

A porcentagem de substantivos de repetição do total de substantivos é de 33,56%.

O corpus apresenta, dentre os substantivos, palavras-tema, com a porcentagem de 11,98% do discurso, escravo com uma freqüência de cinco vezes cada ; abolição, ascensão, base, Brasil, brasileiros, caminho, descendente, domínio, economia, elemento, esteios, formação, letras, oportunidades, papel, e trabalho, com freqüência de duas vezes cada.

Apresenta, também, palavras de caracterização, com uma freqüência no discurso: agro-indústria, América, anos, assistência, braço, café, campos, capital, centenário, cidadania, cidadãos, colônia, construção, contingentes, contribuição, costumes, crenças, crianças, desenvolvimento, Desterro, dificuldades, distorção, dívida, empenho, ensino, escola, escolar, escravatura, espanto, exemplos, fato, figuras, filhos, forço, função, gênio, glórias, igualdade, inteligência, meios, mestiços, Minas Gerais, música, nacionalidade, oferta, ouro, passado, população, posição, prática, preconceito, problemas, quadro, qualidade, raças, rumo, reflexão, regras, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Sensibilidade, sociedade, talento, termos, terra, usos, Vale do Paraíba, vida, e virtude.

A palavra chave encontrada dentro do corpus é “negro”, com uma freqüência diferençada das demais : seis vezes.

Em uma relação de hiperonímia, a palavra negro contém as palavras –tema e de caracterização. As palavras- tema contém as palavras de caracterização.

O texto não possui um núcleo comum entre as palavras-tema. Há um conjunto intersecção vazio.

Esse resultado deixa algo a desejar, quanto ao processo de execução do texto, porque existem nele subconjuntos que se relacionam entre si paradigmaticamente, mas não no conjunto do texto.

Parece ocorrer uma anulação dos temas abordados pelo autor, porque há uma abundância de termos genéricos, sem haver uma delimitação do assunto.

Esse vago reflete esses cem anos de abolição: o desinteresse dos vários segmentos sociais brasileiros em relação à problemática do negro, que foi motivo para a Abolição, a fim de resolver problemas de interesse da sociedade, num dado momento da história Política, Econômica e Social do país.

Segunda Análise

O enunciador do texto em análise é Jorge K. Bornhausen que tem como enunciatário o leitor, o assunto da comunicação entre eu/tu é o hiperônimo abolição correspondente a ELE no eixo de comunicação. Hiperônimo este, que no texto em voga se relaciona diretamente com Negro que passa ser seu co-hipônimo, pois abolição contém semas que legitimam Negro em toda sua extensão gramatical e cultural.

Numa segunda instância , Negro torna-se hipônimo, por ser abrangente em relação a seu- co-hipônimo escravo que contém semas de trabalho, tal como, se lê no 2o parágrafo “... o trabalho escravo se criou e se consolidou a primeira base econômica em que assentou a colônia portuguesa na América: a agro- indústria do açúcar..., o ciclo do ouro nas Minas Gerais,... o do café, no Vale do Paraíba”.

O 3o parágrafo nos fez retomar o hipônimo Negro, já com a exposição de outros semas que integram a cultura brasileira são eles: talento, empenho, arte, costumes, usos, crenças, letras. Ainda, neste parágrafo parece haver um acordar do enunciador para o enunciatário através do co-hipônimo <> que nucleia duas forças de um só hipônimo, que é o Negro enquanto escravo e símbolo de mão- de- obra e o Negro talentoso, que se distingue e impõe sua marca na vida intelectual do país.

O enunciatário pelas peculiaridades específicas deste 4o parágrafo, assume o papel de personagem principal do texto para revelar e quem sabe, até justificar a sua partipação direta na história, a fim de legitimar sua presença nos 100 anos da abolição, espaço este do discurso que ocupa como personagem e muito menos como autor-enunciatário, no sentido de jogar com forte emoção ao falar do hipônimo Cruz e Souza que elimina abolição através do co-hipônimo “poeta simbolista da literatura brasileira”, sintetizando aí a superação dos demais co- hipônimos: talento, inteligência, igualdade, preconceito e identidade.

A indagação do enunciador explícita no 5o parágrafo parece ser um instrumento de persuasão para levar o leitor a repensar a situação do negro neste país, e para isto relega o Negro à sua condição mais inferior na escala social, apontando que mesmo pelo talento, empenho e arte muitos Negros não conseguem a ascensão nos diversos ramos da cultura . Convém ressaltar que a impressão que temos é que ascensão social para Bornhausen é apenas uma máscara que serve para encobrir o impedimento à ascensão econômica do negro.

O enunciador no 6o parágrafo parece querer chamar a atenção do leitor para o seguinte: se no parágrafo anterior o Negro encontra dificuldades para sobressair ,contando com o seu talento , desempenho e arte, força raramente invencível, e de difícil controle externo por se tratar de fatores prévios da intersujetividade do Eu, por outro lado o Negro está totalmente impedido de ascender socialmente , porque ele é combatido diretamente pela própria sociedade através do forte preconceito racial que ela traz encrustada na sua imanência. Ainda neste parágrafo os mecanismos da discriminação são dissimulados quando o enunciador sugere que melhores condições de ensino e assistência ao escolar proveniente de meios materialmente carentes seria a solução, pois é de praxe no país, jogar para a Educação todos os fracassos advindos dos órgãos governamentais e das classes privilegiadas, que se negam a implantar e executar um programa de ação total para erradicar o preconceito da cor e da pobreza.

No 7o e último parágrafo, o enunciador convida a sociedade via leitor a “a resgatar a dívida social com a população brasileira de origem africana”, dando desta forma aos Negros chance para a conquista da cidadania plena, para isto, são necessárias propostas de mecanismos que levam à transformação da própria sociedade.


ESQUEMAS

Na tentativa de sermos mais claros, procuraremos discorrer um pouco mais sobre as palavras e as relações de hiperonímia já mencionadas, através dos esquemas apresentados.

Nos esquemas, há relações de hiperonímia estabelecidas, onde o significado e o significante se interagem .


I-

ABOLIÇÃO


NEGRO




A palavra Abolição da forma que aparece no esquema I é um hiperônimo, abrange um número maior de semas, produzindo de maneira extensiva interpretações diversas. Seu hipônimo é a palavra negro , contida dentro de todo o contexto de abolição , é específica , porque possui um número menor de semas e realça abolição a partir de 1888 no Brasil ,tendo como característica um sema marcado em comum: escravos.

II- NEGRO

DESENVOLVIMENTO

ASCENSÃO


PRECONCEITO


IGUALDADE


RESGATAR TALENTO



No esquema II, a palavra negro é um hiperônimo e seus co- hipônimos são: espanto, desenvolvimento, ascensão, preconceito, igualdade, resgatar e talento. A palavra negro se torna mais extensiva, visto que, seus co- hipônimos possuem semas comuns. A palavra negro aparece no texto ligada à palavra desenvolvimento, porque ele serviu de trabalho braçal nos ciclos de cana-de-açúcar, do ouro e da produção cafeeira no Estado de São Paulo e outros locais do Brasil, à palavra espanto por existir o preconceito negativo quanto ao seu talento, à sua igualdade, à sua ascensão nos domínios da cultura. Discursa-se em resgatar a dívida social com a população brasileira de origem africana, mas não se apresentam propostas viáveis de como resgata-la.

Para Ecléa Bosi, quando o espanto ocorre há toda uma transformação, uma superação de um preconceito, o que possibilita uma igualdade social, por isso no texto o autor diz que causa espanto o fato extraordinário - ascensão de negros e mestiços nos diversos domínios da cultura.

III-

NEGRO


CRUZ E SOUSA



Esquema III, Negro é um hiperônimo e Cruz e Sousa , seu hipônimo.

Cruz e Sousa é o exemplo dado no texto, haja vista o seu título. “Ele” é um símbolo, um modelo de vida para os negros que querem ascender na escala social, deixou uma ideologia carregada de um esteriótipo, fazendo com que aqueles que o imitam , criem seu próprio conceito de superação, desfavorecendo todo o seu grupo, porque sabe-se que as oportunidades são restritas e somente uma força muito grande de luta possibilita o indivíduo a crescer e chegar à superação.

Conclui-se, então, que somente alguns conseguem cavar as oportunidades através da sua força mental, de sua reflexão perante a vida.

Cruz e Sousa

IV

Superação

Talento


Poesia


A palavra Cruz e Sousa, no esquema IV é um hiperônimo. Superação, talento e poesia são seus co-hipônimos.

Cruz e Souza consegue sua superação, porque domina a língua padrão: criador de poesia simbolista, onde os símbolos acústicos e pictóricos se interagem , formando uma linguagem própria dele. Através dela, consegue passar por vários universos de discursos . Seu discurso desloca-se da cidade de Desterro, onde nasceu para o universo de Santa Catarina, que é ampliado para o território brasileiro e internacional.

Sua linguagem causa espanto, quebra preconceitos e torna-se símbolo ideológico.

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Jorge Konder Bornhausen

O exemplo de Cruz e Sousa

Quando o Brasil comemora 100 anos da abolição da escravatura é oportuna uma reflexão sobre a contribuição do negro à formação da nacionalidade, bem como a respeito das condições em que se encontram os descendentes dos antigos escravos.

É hoje reconhecido por todos o papel fundamental que representaram os contingentes trazidos `força para a construção da economia brasileira e o desenvolvimento do país. É sabido que foi sobre o trabalho escravo que se criou e se consolidou a primeira base econômica em que assentou a colônia portuguesa na América: A agro- indústria do açúcar, até hoje um dos esteios das região nordestina. Ao ciclo do açúcar sucedeu, sem extingui-lo, o ciclo do ouro nas Minas Gerais, sempre amparado no braço escravo do negro africano. Até que surgisse um novo ciclo econômico, o do café, no vale do Paraíba, igualmente tendo por base o trabalho do negro.

Como se não bastasse esse papel de esteio da economia, os negros do Brasil contribuíram, com o seu talento, com o seu empenho e arte, para a formação da cultura nacional, quer nos costumes e usos, quer nos campos das artes e das letras. E causa espanto,sem dúvida, o fato extraordinário que significa a ascenção de tantos negros e mestiços, por vezes filhos de escravos,como figuras notáveis nos diversos domínios da cultura. Nas artes plásticas, na literatura, na música, o elemento negro distinguiu-se e impôs a sua marca na vida intelectual do país.

E aqui quero prestar homenagem a um grande poeta negro nascido e criado em Santa Catarina e que se tornou uma das maiores glórias das letras pátrias: João da Cruz e Sousa.Vale recordar que o gênio de Cruz e Sousa já se havia revelado em sua própria terra, na antiga Desterro , não obstante o meio acanhado e provinciano que então representava a capital catarinense. Isto é, o valor do poeta, em termos de sensibilidade artística e inteligência, foi capaz de sobrepôr-se a todas as dificuldades, até levá -lo à posição , já no Rio de Janeiro, de maior poeta simbolista da literatura brasileira universal.

O caso de Cruz e Sousa nos leva a meditar sobre o problema social do negro em nosso país. É certo que os descendentes de escravos tiveram de partir de condições muito adversas e penosas, colocados no nível mais baixo da escala social. Não desfrutaram das mesmas oportunidades que tiveram brasileiros de outras origens étnicas. Nestas condições, quantos Cruz e Sousa deixaram de abrir o seu caminho e emergir nos diversos ramos da cultura brasileira?

Na prática, o elemento negro sofre menos em função do preconceito racial propriamente dito do que em virtude do baixo nível de vida herdado do passado.No centenário da abolição cumpre-nos a todos nós, brasileiros de todas as raças, tentar corrigir esta distorção procurando propiciar igualdade de oportunidades a todos os cidadãos, o que a meu ver, deve começar pela oferta de ensino fundamental da melhor qualidade possível a todas as crianças, acompanhada da necessária assistência ao escolar proveniente de meios economicamente carentes.

Resgatar a dívida social com a população brasileira de origem africana é trabalhar para abrir a todos os caminhos de ascensão ao nível da cidadania plena, no quadro de uma sociedade liberal e progressista.

Trabalho publicado na Revista da Uniclar, maio de 2001, Ano III, número 1, ISSN 1517-2546.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Do Rupestre a Othoniel Motta

DO RUPESTRE A OTHONIEL MOTTA

Vera Lúcia Grando[1]

Palavras-chave: alfabeto, gramática, Othoniel Motta, Chave da Língua

Key-Words: alphabet, grammar, Othoniel Motta, Key of the language

Resumo: Do rupestre a Othoniel Motta proporciona uma visão da organização das idéias lingüísticas ao longo dos anos, desde a sistematização da fala como da escrita , do surgimento do rupestre, dos alfabetos, das gramáticas grega, latina, portuguesa (lusa), portuguesa (brasileira) até a pequena gramática para crianças, de Othoniel Motta.

Abstract : Since the drawings in the caves to Othoniel Motta we havw a view over the organization of the linguistic ideas by passing the years, as well the systematization of the drawings in the caves, alphabets, Greek, Latin, Portuguese( Portugal), Portuguese ( Brazil) grammars up to the little grammar for the children, from Othoniel Motta.

Do Rupestre a Othoniel Motta foi um trabalho de pesquisa apresentado à Profª Drª Leonor Lopes Fávero, nas Letras da FFLCH-USP, em nível de pós-graduação, para a finalização do curso Historiografia das Idéias Lingüísticas no Brasil e em Portugal, o qual me exigiu uma organização das idéias lingüísticas ao longo dos anos, desde a sistematização da fala como a da escrita até os tempos modernos, de maneira clara e objetiva, para que me sirva como também aos leitores deste, de parâmetros para os próximos desenvolvimentos de pesquisa na área da linguagem .

Somente após esse curso é que pude começar a entrelaçar melhor os fatos,pois os meus conhecimentos adquiridos nessa área estavam aqui e acolá , esparsos nos emaranhados das teorias. Ora elas se casavam, ora se complementavam, ora se contradiziam, formavam blocos compactos de conhecimento, sem um elo que as unissem.

Voltar na história da linguagem, fez-me buscar a sua origem, de modo que pude melhor entendê-la, fez-me buscar a semente geradora, a qual foi-se ramificando, transformando.

E comecei a minha partida dos sons produzidos pelos primórdios, da sua sistematização para a manifestação da escrita rupestre, desta para as ramificações do tipo de escrita. Escolhi o rumo da escrita alfabética para dar prosseguimento, observei a sua sistematização e ramificações, prossegui pelo atalho da escrita grega, quando conheci as interpretações dos anomalistas e a dos analogistas e constatei a vitória dos analogistas por anos, formando o seu império, com um castelo fortificado, A Gramática Tradicional, pela qual ecoam, desde a Grécia Antiga até os tempos atuais, os seus valores nas vozes dos professores e gramáticos. Suas vozes podem ser encontradas nas gramáticas latinas, nas gramáticas das línguas românicas, nas gramáticas de muitas línguas ameríndias e germânicas, pois o modelo grego serviu de base para a confecção de todas elas.

Continuei o processo de consolidação de conhecimentos, partindo da gramática portuguesa de Portugal rumo ao Brasil por volta da sua descoberta, quando deparei-me com a educação jesuítica, as reformas Pombalinas , com a tradição das gramáticas.

Nas buscas das primeiras gramáticas feitas no Brasil, surgiu me, Chave da Língua, de Othoniel Motta , com suas pequenas noções de gramáticas à infância, na qual há uma belíssima apresentação do autor e notas ao professorado, que possibilitam um espectro ligando as várias ramificações da lingüística : psicolingúística, morfologia, fonologia, sociolingüística , métodos de ensino-aprendizagem. Esta pequena gramática faz jus ao seu nome:Chave.

No final deste trajeto, dedico este panorama de sistematização da língua aos leitores que queiram usufruir dos pontos que se referem à sistematização da língua escrita, a sua gramaticalização, a sua normatização, a sua tradição, a sua descontextualização e a sua contextualização

DO RUPESTRE AO ALFABETO DA LÍNGUA PORTUGUESA

No início dos tempos, o homem aprendeu a articular os sons para expressar a sua vontade, a sua impressão de mundo, as suas buscas e caçadas, desta forma, constitui-se a fala. E a soma das falas permaneceram no inconsciente de cada um e do coletivo, formando um sistema de abstração: uma língua , um código. Este passou a gerar de geração em geração uma comunicação lingüística.

À medida que parte das pessoas se afastavam de seu grupo para outro território em busca de alimentos, devido à força externa do ambiente, diferente em relação ao clima, à flora e à fauna, o falar dessas se modificava, pois novas palavras, novos signos nas mensagens delas eram inseridos. Deu-se, então, a variedade lingüística entre os grupos. Cada grupo passou a se distinguir não só pelas suas características pessoais , mas também pela sua diversidade lingúística. E assim se formou a babel lingüística.

Com o tempo, o homem sentiu necessidade de registrar nas cavernas fatos do mundo em que vivia, buscou em sua memória as imagens gravadas, que com a ajuda de sua habilidade sensório- motor, ganharam formas rupestres.

Mais tarde, os sumérios ( 5000 a . C. ), criaram um sistema de contas, uma série de pedras de argila com diversas formas, listras e cruzes que serviam de elementos distintivos entre elas. Essas contas armazenadas em caixas eram usadas para anotações de trocas mercantis. Cada conta representava uma quantidade determinada de algo. Esse sistema evoluiu e passou-se a usar uma tabuinha de argila para marcar as contas, feitas com o caniço do junco. A seguir, ao lado das contas colocavam-se marcas de objetos, que no decorrer dos anos tornaram-se estilizadas, signos pictográficos, representantes de coisas, constituindo por volta de 3200 a. C. a escrita cuneiforme.

No Egito, 3050 a . C. , surgiu o sistema hieroglífico, um tipo de escrita que imitava com muito cuidado a natureza. Nem sempre o desenho representava o objeto real, poderia representar o simbólico, uma metáfora religiosa.

Posteriormente, na China (1200 a . C.), às essas imagens (pictogramas) acrescentaram-se notações propriamente ideogramáticas, desde quando se utilizaram os índices – conforme o raciocínio: X implicaY- ou os símbolos – o signo indicativo de uma idéia, mas de modo puramente convencional. Os ideogramas representavam morfemas, muitos formados de uma só sílaba. Tais morfemas, passaram também a representar nas novas palavras a noção de sílaba. Passou-se, assim, pouco a pouco, de um sistema puramente ideográfico a um sistema silábico.

Foi na Fenícia, 1100 a . C, região da Síria Palestina, onde surgiu o sistema alfabético, o qual evoluiu para um sistema ordenado , abecedário com 22 letras . Esse sistema de escrita foi adotado por diversas línguas, pois era mais fácil de aprender que o egípcio e o sumérico. Desse derivaram o aramaico, subdividido em hebraico e árabe e o grego arcaico, subdividido em latim , grego e cirílico.

No alfabeto grego arcaico foram inseridas as vogais , uma vez que no fenício havia somente um sinal correspondente à consoante da sílaba e no alfabeto latino, foram eliminadas ou acrescentadas algumas letras. Este foi difundido com a expansão do Império Romano e adotado nas línguas de origem latina , como o português, o italiano, o espanhol e o francês e de outras origens, por exemplo, o alemão e o inglês.

O alfabeto da língua portuguesa com 23 letras, formado a partir do latino, não possui para cada som uma letra , pois uma mesma letra pode corresponder a diversos sons e junto de um aparato de sinais de pontuação, de trânsito, e de símbolos do teclado de um computador formam o nosso sistema de escrita.

Nota-se, desta forma, que o sistema de escrita e o sistema da língua falada são distintos, o primeiro é artificial, criado e memorizado e o segundo é natural, apreendido e transmitido. Neles, há a babel da língua falada e a babel da língua escrita. Ambos evoluíram e se diversificaram , criando variedades lingüísticas.[2]

GRAMÁTICA

O sistema de uma língua se mantém vivo, potente e gerador de comunicação, porque existe uma espécie de fio condutor ou de vários, os quais possibilitam a passagem do que está em potencial, armazenado para uma estrutura subliminar, cuja estrutura serve de ancoragem para os morfemas (partes mínimas de sentido de uma palavra), os fonemas ( unidades mínimas distintivas de som ) e os semas ( unidade mínima de significação) se organizarem , formando as palavras.

Nesse processo dinâmico de organização, parte-se dos paradigmas dessas partes e unidades mínimas e da sua seleção para a sua ordenação, estabelecendo relações morfológicas, morfossintáticas e funções sintáticas, a fim de se formar um texto gramatical, coerente e inteligível em uma estrutura de língua .

Como a seleção dessas depende de um usuário da língua, este acaba organizando a sua própria gramática, uma variante , conforme a sua estrutura mental, a sua práxis, os seus recortes de mundo, a sua interpretação individual, grupal, esteriotipada e ideológica. Produz o seu texto que pode ser considerado gramatical ou agramatical pelos mesmos indivíduos que falam essa mesma língua.

Segundo Dubois et all (1993, p. 318), a gramaticalidade da língua se distingue: “a) da significação: o vestíbulo ilumina o nada” é uma frase gramatical, mas dificilmente interpretável, a não ser metaforicamente; b) da verdade ou da conformidade à experiência geral da comunidade cultural: A lua é quadrada e o homem morto está vivo são frases gramaticais, mas falsas ou contraditórias; c) da probabilidade de um enunciado: O rinoceronte olha com atenção o filme tem pouca chance de ser freqüentemente realizada; d) da aceitabilidade ou possibilidade de compreender uma frase gramatical, mas de grande complexidade: A noite que o rapaz que o amigo que você encontrou, conhece, dava, era um sucesso, é inaceitável. A gramática não se baseia no emprego de uma palavra ou de uma construção, mas num julgamento. E esse julgamento não depende da experiência adquirida, mas de um sistema de regras gerais interiorizadas durante a aprendizagem da língua. Por isso, são os julgamentos de gramaticalidade que vão servir para estabelecer as regras de uma gramática e as agramaticalidades recenseadas permitem definir coerções que se exercem sobre as regras gerais ( regras dependentes do contexto)”.

Percebe-se, então, que uma organização de sons produz palavras, unidades do sistema e da gramática de uma língua e que a organização de algumas palavras de um sistema interiorizado por um indivíduo pode ser gerado e julgado por outros falantes.

Escrita da Gramática

A organização da língua falada com sua gramática de consenso, de uso dessa em um determinado contexto, permite ser recriada a todo momento pelos falantes, os quais ali estão inseridos. Criam a sua própria gramática, certamente buscando uma coerência e uma conexão dos conhecimentos entre eles, às vezes, destacando-se mais pela colocação das palavras de maneira clara, ou inovadora, ou causadora de efeitos de sentido.

Auroux (1992,p.26), em a Revolução Tecnológica da Gramatização, parece-lhe “que o reconhecimento de unidades e a formulação de regras a seu propósito pode nascer espontaneamente a partir de um domínio da enunciação, nesse tipo de disciplina que conhecemos no Ocidente sob a forma da lógica e da retórica”. Entende o domínio da enunciação como a capacidade de um locutor tornar sua fala adequada a uma finalidade dada, convencer, representar o real.

Aqueles falantes que têm a oportunidade de entrar em contato com a escrita, passam a transcodificar a língua falada para a escrita como concebem a organização da sua gramática internalizada. Criam textos, redimensionam códigos, nem sempre considerados elegantes, eficazes, coerentes, coesos, gramaticais, segundo alguns critérios.

Para Auroux (1992, p.35), o que se chama de gramática “e que foi durante dois milênios uma das formas de saber lingüístico dos mais trabalhados no Ocidente, repousa sobre o recorte da cadeia falada ( ou escrita , na maior parte dos casos), isto é, sobre o reconhecimento das unidades e- ao contrário da lexicografia – sua projeção sobre uma dimensão paradigmática que rompe com a linearidade desta cadeia”.

A gramática era somente uma aprendizagem elementar de leitura e de escrita., quando foi criada no final do séc. IV e início do séc. V pelos gregos e passou a ser melhor definida nos dois séculos antes da nossa era, na atmosfera filológica da Escola de Alexandria. Nessa escola, Dionísio da Trácia , gramático grego, elaborou sua Arte de Gramática, obra que serviu de base para a gramática grega, latina e outras línguas européias até o Renascimento.

Segundo Lyons (1979, p.9), “ a admiração pelas grandes obras literárias do passado encorajou a crença de que a própria língua na qual elas tinham sido escritas pelos filólogos helenistas tinham então uma dupla finalidade: combinavam a intenção de estabelecer e explicar a língua dos autores clássicos com o desejo de preservar o grego da corrupção por parte de ignorantes e dos iletrados”. Para ele, “essa abordagem do estudo da língua cultivada pelo classicismo alexandrino envolvia dois erros fatais de concepção. O primeiro diz respeito à relação língua e fala e o segundo, à maneira como a língua evolui”. Chama-os de erro clássico no estudo da língua. Desta forma , privilegiaram-se os textos mais antigos, considerados em estado puro, modelos para o bem falar e para o bem escrever.

No início dos estudos da gramática, havia os anomalistas e analogistas, estes se preocupavam com as regularidades da língua e aqueles com as irregularidades da língua. Protágoras (séc. V a. . C. ) distinguiu os três gêneros em grego; Platão (429-347 a . C.) fez a oposição do sujeito- predicado/ substantivos-verbos, estabelecendo as partes do discurso; outros gramáticos introduziram um outro bipartido substantivo- adjetivo e verbo. Aristótoles (384-322 a . C. ) conservou a divisão de Platão : substantivo- verbo e acrescentou uma terceira classe :“conjunção” introduziu o neutro, reconheceu a noção de tempo do verbo, presente e passado. Os estóicos, escola grega rígida, com extirpação das paixões e aceitação do destino, fizeram a distinção entre forma e significado: o significante e o significado. Esses, apesar de anomalistas, não consideravam a língua um reflexo direto da natureza, já os mais antigos distinguiram quatro partes do discurso: substantivo, verbo, conjunção, artigo; os sucessores distinguiam cinco, separando os substantivos comuns dos substantivos próprios ; os alexandrinos, analogistas, preocupavam-se com as regularidades da língua, entretanto prosseguiram com os trabalhos dos estóicos, estabeleceram paradigmas de flexão, cânones. Dionísio da Trácia ( fim do séc.II a . C.) fez a primeira distinção gramatical ampla e sistemática., acrescentou às partes do discurso reconhecidas pelos estóicos, o advérbio, o particípio, o pronome e a preposição; Apolônio Díscolo ( séc. II d. C) ocupou-se da sintaxe. .

DO MODELO GREGO À GRAMÁTICA LATINA

Os romanos, ao mesmo tempo que estendiam os seus domínios, levavam para as regiões conquistadas os seus hábitos de vida, as suas instituições, os padrões de sua cultura, entretanto aprendiam também com outras culturas, haja vista o alfabeto latino, o qual recebeu desde o século III a . C. , a influência benéfica grega. “O latim escrito com intenções artísticas foi sendo progressivamente apurado até atingir, no século I a . C. , a alta perfeição da prosa de Cícero e César, ou da poesia de Vergílio e Horácio” (Cunha,1984,p.12).

Lyons ( 1979, p. 13) menciona que os gramáticos latinos “seguiram os modelos gregos não apenas nas suas doutrinas gerais acerca da língua, mas também em questões de detalhe. Organizou-se uma gramática latina padrão, que, como a de Dionísio, o Trácio, compunha-se de três partes . A primeira definiria a gramática como a arte de falar corretamente e de compreender os poetas, e trataria também da letras e das sílabas. A segunda trataria “das partes do discurso” e daria, com maiores ou menores detalhes, as variações que elas sofriam segundo o tempo, o gênero, o número, o caso,etc. Finalmente, haveria uma discussão sobre o bom e o mau estilo, advertências contra “erros” e “barbarismos” comuns, e exemplos das “figuras de linguagem” recomendadas.”

Por serem semelhantes as línguas grega e latina, os latinos introduziram apenas algumas modificações , quanto às diferenças que eles observavam , em relação às partes do discurso. Consideraram como os gregos , as partes do discurso categorias universais: o caso, o número, o tempo, etc.

Somente na Idade Média e até o séc. XII, as gramáticas de Donato (400 d. C. ) e Prisciano ( 500 d. C) foram usadas como manuais de ensino e perpetuavam o culto dos clássicos, dos melhores escritores, em particular: Cícero e Virgílio. Nesse período, o latim era divulgado pelas escolas, “não era meramente uma língua estrangeira; era principalmente uma língua escrita. Na medida em que era falado, cada região desenvolvia sua pronúncia própria. Esse fato apenas reforça a idéia tradicional da primazia da língua escrita” ( Lyons, 1979, p. 14).

A difusão do latim em todas as regiões de domínio romano proporcionou a primeira gramatização massiva . Os dicionários e gramáticas eram produzidos em latim , ocorria uma metalinguagem . Criou-se, segundo Auroux, uma rede homogênea de comunicação centralizada inicialmente na Europa. “As crianças latinas que frequentavam a escola do gramático já sabiam sua língua, sendo a gramática só uma etapa do acesso à cultura escrita”.

A GRAMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Embora o latim tenha sido difundido em toda região sob o domínio romano, deve-se ressalvar que esse, fora do território Lácio, não tinha as mesmas características do estudado nas escolas pelos latinos. Havia variedades lingüísticas que eram levadas a diferentes partes do mundo, o vulgar (incluem-se nesta variedade, o colóquio polido, as linguagens profissionais e gírias), falado pelos soldados, pelo povo e o clássico , literário , estudado nas escolas, empregado na gramática, com uma visão estática da língua.

O contato entre os povos, a miscigenação, a imposição cultural romana, não deixaram as línguas locais imunes à interferência lingüística latina. Esta foi assimilada, reinterpretada, transformada e incorporada pelos habitantes locais, originando em um processo dinâmico, línguas diversas, chamadas românicas. Certamente, por um bom período os falantes locais usaram a sua língua materna, ocorrendo com o latim imposto pela administração, um bilingüismo.

Cunha, em Gramática da Língua Portuguesa, menciona que os romanos chegaram à Península Ibérica no século III a . C., por ocasião da 2ª Guerra Púnica, mas só conseguiram dominá-la por completo, ao fim de longas e cruentas lutas, em 19 a . C. , quando Augusto venceu a resistência dos altivos povos das Astúrias e da Cantábria. Acrescenta que “muito pouco se sabe das antigas populações ibéricas. No início da romanização habitava a península uma complexa mistura racial: celtas, iberos, púnico-fenícios, lígures, gregos, e outros grupos mal identificados.” De 409 a 711, a Península Ibérica foi invadida por outros povos : germânicos ( vândalos , suevos , alanos , visigodos ), árabes, sírios e berberes.

Leite Vasconcelos ( apud Ilari, p.172) distribui os dialetos portugueses formados a partir da romanização em :

I- Português propriamente dito:

1- Dialetos continentais : interamnense ( alto minhoto, baixo minhoto, baixo duriense); trasmontano ( raiano, alto duriense, subdialeto ocidental e central); beirão (alto- beirão, baixo-beirão, subdialeto ocidental de Coimbra e Aveiro); meridional (estremenho, alentejano e algarvio).

2- Dialetos insulares ( açoriano e madeirense).

3- Dialetos ultramarinos ( brasileiro, indo-português e vários falares crioulos).

4- Dialetos judeu-portugueses

II- Codialetos: galego, riodonorês, mirandês,e guadramilês.

Os romanos foram perdendo o seu poder e os Estados começaram a se formar. A Península foi sendo reconquistada pelos habitantes locais. Em 1085, Afonso VI de Castela atribui o feudo, Condado Portucalense, a Henrique de Borgonha o qual foi reconhecido como reino independente já em 1143. E para a velha correspondência uma língua, uma nação, tomando valor não mais pelo passado mas pelo futuro, adquire um novo sentido: as nações transformadas, quando puderam, em Estados, estes vão fazer da aprendizagem e do uso de uma língua oficial uma obrigação para os cidadãos (Auroux, 1992, p.49). Eis que floresceu em Portugal, séc XIII, a poesia lírica, escrita em uma língua muito próxima do galego, o galaico-português, que era usado na língua literária e no séc XII , na poesia trovadoresca e na redação de documentos notariais. Em 1279, o português, o qual havia se constituído língua, destacando-se do galego, foi oficializado por D. Dinis, rei de Portugal.

Desde o séc. IX, para o europeu, o latim era uma segunda língua, a qual ele devia aprender, “a gramática latina existe e vai se tornar prioritariamente uma técnica da aprendizagem da língua.... Foi necessário primeiro que a gramática de uma língua já gramaticalizada fosse massivamente empregada para os fins de pedagogia lingüística , porque esta língua se tornou progressivamente uma segunda língua, para que a gramática se tornasse – o que tomará um tempo considerável- uma técnica geral de aprendizagem , aplicável a toda língua, aí compreendida a língua materna.”( Auroux, 1992, p. 42)

Se na Idade Média, nas escolas, ensinavam-se o trivium- gramática latina, retórica e dialética, no Renascimento, “a gramática deixa de ser necessariamente a latina e incide sobre as línguas vernáculas” ( Fávero, 1996,p.21). “Esta gramatização constitui – depois do advento da escrita no terceiro milênio antes da nossa era – a segunda revolução técnico-lingüística. Suas conseqüências práticas para a organização das sociedades humanas são consideráveis. Essa revolução – que só terminará no século XX- vai criar uma rede homogênea de comunicação centrada inicialmente na Europa”( Auroux, 1992, p. 35).

Em Portugal, surgiu nesse momento, com a valorização da língua materna gramáticas do português: Gramática da linguagem portuguesa, 1536, de Fernão de Oliveira; Gramática da língua portuguesa, 1540, de João de Barros; Methodo grammatical para todas as línguas, 1619, de Amaro de Roboredo; Porta de línguas, 1623, de Amaro de Roboredo.

João de Barros editou junto à sua Gramatica da língua portuguesa, a Cartinha, , na qual havia um conteúdo de aprendizagem da língua materna e para o ensino da língua portuguesa aos povos de outros continentes não- latinizados ( Fávero, 1996, p. 34).

“As gramáticas vulgares são normativo- pedagógicas e têm a preocupação de mostrar que as línguas vulgares, capazes de serem postas em regras, têm direito à posição de destaque. Ao mesmo tempo em que adotam o modelo da gramática latina, modificam-se em função ou de seu ponto de vista descritivo ou dos materiais de que dispõem ( as línguas vernáculas); trata-se de codificar um uso” ( ibidem, p.34). Para Fávero (p.45), “a gramática não tem por finalidade ensinar a língua , mas fornecer modelos (literários) àqueles que já possuem a língua padrão; ela é ao mesmo tempo o reflexo e o resultado de uma organização social e ferramenta da classe dominante, uma força ativa de sua ideologia, para manutenção desta dominação: o gramático, talvez sem perceber, desempenha o papel ideológico de exclusão do saber ( e do poder) das camadas que não constituem a elite.”

Nem sempre as gramáticas usadas nesse período, satisfaziam os pareceres dos gramáticos, pois “o vernáculo limitava-se às escolas de ler e escrever, mantidas pelos jesuítas, às portas da universidade, ou era ensinado nas casas das famílias abastadas por mestres particulares.”(idem, p. 63).

Roboredo , em Methodo grammatical para todas as línguas, criticou os métodos de ensino da língua de seu tempo por duas razões: ensinavam palavras isoladas e ensinavam termos que nunca seriam usados porque estavam desligados da vida diária, da vivência do aluno. Assim, mostrou-se muito avançado para seu tempo, segundo Fávero. Percebe-se, desta forma , que sua teoria já preconizava as falas atuais de ensino –aprendizagem, por exemplo, o caso da gramática que, “ ensinada de forma descontextualizada, tornou-se emblemática de um conteúdo estritamente escolar, do tipo que só serve para ir bem na prova e passar de ano – uma prática pedagógica que vai da metalíngua para a língua por meio da exemplificação , exercícios de reconhecimento e memorização de nomenclatura.” ( Parâmetros Curriculares –LP, 2000,pag.39)

Marquês de Pombal iniciou as reformas da educação com o Alvará Regio de 28 de junho de 1759. Não satisfeito com a pedagogia vigente em Portugal, extinguiu todas as escolas dirigidas pela Companhia de Jesus. As aulas de latim passaram a ser ministradas em português, assim como as demais disciplinas com o intuito de criar nos alunos um interesse pelo ingresso nos cursos maiores. E assim começou uma nova pedagogia ; “a gramática é útil e conduz a bem falar e escrever; o que não se deve fazer é iniciar seu estudo partindo da gramática latina”. ( Fávero, 1996, p. 69).

A GRAMÁTICA NO BRASIL

A força de Pombal não transformou o ensino somente em Portugal, atingiu também a sua Colônia , o Brasil, com o objetivo de “substituir a escola que servia aos interesses da fé pela escola útil aos fins do Estado”. ( Piletti, História da Educação no Brasil, p. 38)

Se em Portugal as reformas visavam introduzir as novas idéias iluministas, havendo um programa para que ocorresse uma transformação adequada, com incentivo à modernização, no Brasil, a educação, a qual esteve durante 210 anos em poder do monopólio jesuítico, foi extinta. Houve obrigatoriedade do ensino de Português, eliminando-se o bilingüismo, e não houve nenhum programa efetivo de ensino até o afastamento de Pombal. Segundo Valnir Chagas (apud Piletti, p. 36) : “pior é que substituir a monolítica organização da Companhia de Jesus, algo tão fluido se concebeu que, em última análise, nenhum sistema passou a existir. No reino, seria instalada uma longínqua e ausente Diretoria de Estudos que, em rigor, só começaria a operar após o afastamento de Pombal ; na colônia imensa, uma congérie de aulas régias superintendidas pelo Vice- Rei. Cada aula régia constituía uma unidade de ensino, com professor único, instalada para determinada disciplina”.

Os jesuítas que vieram ao Brasil, após a sua descoberta “logo compreenderam que não seria possível converter os índíos à fé católica sem, ao mesmo tempo, ensinar-lhes a leitura e a escrita. Por isso, ao lado da catequese, organizavam nas aldeias escolas de ler e escrever, nas quais também se transmitiam o idioma e os costumes de Portugal”( Piletti, p. 34). Entretanto para ensinar aos gentios, havia a necessidade de se fazer entender e compreender a sua cultura. “A gramática se torna simultaneamente uma técnica pedagógica de aprendizagem das línguas e um meio de descrevê-las.” ( Auroux, p. 36)

José de Anchieta, professor e fundador do Colégio São Paulo de Piratininga (25 de janeiro de 1554) criou sua Arte de grammatica da lingua mais usada na costa do Brasil, publicada em Coimbra ,em 1595. Percorreu uma boa parte das aldeias existentes no litoral, observando usos e costumes e, particularmente, as línguas indígenas. Ressalva-se que neste período ocorria a gramatização das línguas em geral e que “ a gramatização da língua européia é absolutamente contemporânea da dos outros continentes”. ( Auroux, p. 37) Para a confecção de uma gramática, tomava-se o modelo gramatical latino e verificavam-se as ocorrências dos casos nas línguas gramaticalizadas.

Citam-se algumas obras sobre as línguas indígenas feitas antes da reforma de Pombal, quando havia uma situação de bilingüismo, permitida oficialmente:

Pero de Magalhães Gândavo- História da província de Santa Cruz e Tratado da terra e gente do Brasil- 1576.

José de Anchieta- Arte de grammatica da lingua mais usada na costa do Brasil- 1595.

Anônimo- Vocabulário na língua brasílica- 1621.

Luís Figueira- Arte de grammatica da língua brasilica.- 1687.

Gaspar da Madre de Deus- Memórias para a história da Capitania de São Vicente- 1797.

Com a vinda de D. João VI ao Brasil, em 1808, houve uma imposição de uso da língua a ser usada na corte e nas escolas: a língua falada e escrita em Portugal. Os brasileiros que nunca tiveram contato com Portugal, mesmo aqueles das camadas nobres, tiveram de se moldar a essa nova língua. Neste momento, nasceu uma questão lingüística entre a língua portuguesa conservadora no Brasil e a língua evoluída em Portugal. A norma a ser seguida era a de Portugal, enquanto a outra passava a ser desprestigiada . Começava a existir mais uma variante de língua no Brasil. As gramáticas portuguesas passaram a ser usadas na escola . Houve a implantação da chamada gramática tradicional no Brasil. Aquela que “é um conjunto sistemático de normas para bem falar e escrever , estabelecidas pelos especialistas, com base no uso da língua consagrado pelos bons escritores” ( Franchi, projeto Ipê, 1991, p.48) de Portugal ou bons escritores brasileiros que seguiram às normas da gramática portuguesa. A língua tomou um caráter de estática e descontextualizada.

Somente após trezentos anos de colonização, começaram aparecer livros e dicionários feitos no Brasil, embora impressos em Portugal. Em 1813, 1844, 1858, editou-se o Diccionário da lingua portugueza, de Antonio de Morais Silva e em 1881, a Gramática Portuguesa, de Júlio Ribeiro.

Othoniel Motta , gramático da língua portuguesa, escreveu Chave da língua, uma pequena gramática destinada às crianças, que, segundo ele, seria introdução ao livro “Lições de Portuguez”, publicado em 1915.

Chave da língua é um documento que espectra de maneira subliminar uma realidade de insucesso da educação infantil ao longo do tempo, no que se concerne o ensino-aprendizagem da gramática. Eis que traz as primeiras noções de gramática à infância, algumas informações acerca do comportamento do professorado diante do aluno e do aluno perante à gramática. Por ser um material enriquecedor, são deixados aqui alguns apontamentos, que poderão vir a contribuir aos estudos filológicos e historiográficos.


OTHONIEL MOTTA


Othoniel Motta, quando professor catedrático do ginásio de Campinas, recebia opiniões de seus livros publicados, encontradas em seu livro de gramática, O Meu Idioma, tais como: Silva Ramos, Osório-Duque Estrada, Cândido de Figueiredo, Altino Arantes, Afrânio Peixoto, João Ribeiro, Adalgiso Pereira, Meyer Lübke, Araripe Junior. Foi um dos fundadores da Igreja Presbiteriana Brasileira.

Na noite de 31 de julho de 1903, um grupo de 7 pastores e 11 presbíteros deixou a reunião do Sínodo (da então Igreja Presbiteriana do Brasil), liderados pelo Rev. Eduardo Carlos Pereira, para fundar a “EGREJA PRESBYTERIANA INDEPENDENTE BRAZILEIRA”, segundo a ortografia da época. No dia seguinte, 1 de agosto, organizaram-na oficialmente em “Presbitério Independente”. Outros quatro presbíteros foram arrolados entre os fundadores da Igreja (ficaram conhecidos como “fundadores do dia seguinte”).” Os pastores fundadores eram:Alfredo Borges Teixeira, Bento Ferraz, Caetano Nogueira Júnior, Eduardo Carlos Pereira, Ernesto Luiz de Oliveira, Othoniel Motta, e Vicente Themudo Lessa. ( site, História da IPIB)

Segundo Lygia Corrêa Dias de Moraes (Revista Estudos Avançados número 22), em 1937, voltando à França o professor Berveiller, Rebelo Gonçalves assume a cadeira de Filologia e Literatura Grega e Latina e deixa Filologia Portuguesa para o professor Othoniel Motta. Nesse mesmo ano publicou em São Paulo dois livros, Filologia e literatura, mais voltado para temas clássicos, e Dissertações camonianas. Acrescenta ainda:

Os estudos de Português, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, nasciam, pois, sob a égide da Filologia, tomada quer em seu sentido vulgar, de dedicação aos estudos de gramática, quer no também corrente de estudo diacrônico da língua, quer no mais amplo, de estudo de uma cultura através de seus textos escritos, o que implica as duas primeiras acepções e a liga necessariamente a outras ciências, ampliando-lhe vastamente o âmbito.

Essa inclinação marcaria forte e longamente a área, que ainda hoje leva essa designação - Filologia e Língua Portuguesa -, a que faz jus.

Ao assumir, Othoniel Motta era já então conhecido autor de alguns excelentes livros didáticos, Lições de Português, com que introduziu no Brasil, em 1915, o depois largamente difundido (e, infelizmente, mal usado) método de análise sintática por diagramas que fora tomar aos americanos Reed e Kellog; Seleta moderna e O meu idioma, a que juntava, em 1937, Horas filológicas, estudos com elogiosa apresentação de Rebelo Gonçalves.”

Othoniel Motta retomou, em linhas gerais, os programas de seu antecessor.


CHAVE DA LÍNGUA

Othoniel Motta iniciou a apresentação de seu livro Chave da Língua, primeiras noções de grammatica ministradas à infância, explicando por que não lhe chamou Grammatica Infantil.

“Não o fiz, porque quasi voto horror a certas grammaticas infantis de que tenho conhecimento, mostrengos que principiam com as mais abstrusas noções, as quaes poderão ser decoradas, mas jamais compreendidas pelas intelligencias incipientes.

A mania de dar à intelligencia infantil, violentamente, como se enfia o alimento pela guella de um ganso, as mais aridas e indigestas noções de grammatica, tem produzido verdadeira tragedia: um esforço nullo, seguido de invencível aversão ao estudo da nossa língua.”

Neste trecho, Othoniel demonstra entender que as crianças ainda não estão preparadas para receber tantas informações através de metalinguagem, a qual exige um esforço de abstração e lógica. Sabe-se que a criança só atinge um nível de abstração para entender textos filosóficos a partir dos onze anos, quando ela está no estágio da “construção da lógica e a operatório-formal, fase em que a criança raciocina, deduz”.(Del Ré, Tópicos de Psicolingüística Aplicada, 1999, p.56).

Continuou a sua explanação:

“Neste livrinho tive por intuito evitar aos filhos dos outros o que não pude evitar aos meus , pois tive a desventura de ver uma filhinha entrar, por assim dizer, para um grupo escolar, sobraçando por ordem da professora a grammatica de Julio Ribeiro! Parece incrivel.

Não dei ao livrinho o nome de grammatica, porque, a bem dizer, é elle uma reação contra as grammaticas: são antes palestras com os pequenos, e , quanto possível, na lingua dos pequeninos. ( tarefa quasi sobrehumana!).

Ninguem procure aqui um trabalho perfeitamente methodico, perfeitamente logico e systematico. A experiencia de longos annos de ensino e observação levou-me a ver que, por vezes, é necessario, para que sejamos praticos efficientes, seguir, não a nossa logica, mas o illogismo da criança, para de lá, com paciencia e amor, virmos subindo à logica cerrada e fria dos adultos.

Estas pequenas lições são um appello directo à intelligencia, que trará como sua ancilla a memoria. A memoria é ancilla da intelligencia, nada mais; porém é uma excellente ancilla, cujos serviços não poderão jamais ser desprezados. O erro – e que erro!- tem sido a transformar-se a ancilla em senhora, para não dizer em soberana absoluta. Não, a soberana há de ser sempre a intelligencia.”

Na idade do grupo escolar, atualmente no primeiro ciclo do ensino fundamental, as crianças de sete anos estão na fase das representações, dos símbolos, a operatório-concreta, segundo a teoria de Piaget. Esse dado parece explicar o ilogismo argumentado por Othoniel. A linguagem, para Piaget, “é apenas uma manifestação de um sistema geral de representação ( função semiótica) e se constitui a partir da chamada fase pré- operatória- dos 2 aos 7 anos- resultante do período sensório-motor que o antecede. Deve-se levar em conta, nessas fases de desenvolvimento propostas por Piaget, o desenvolvimento de um indivíduo que interage com o meio e com o outro”.(Del Ré, p. 56)

Othoniel finalizou a sua introdução nesses três últimos parágrafos, dirigindo-se ao professorado da época.

“Dizendo isto, está que dito que este livrinho foi escripto para auxilio de professores de raça, quero dizer de vocação. Os livros que appellam principalmente para a memoria são o ideal dos mestres mercenarios, que, se pudessem, supprimiriam todo esforço do professor. Esses nào têm parte connosco neste ministerio.

Está claro que não tenho a menor pretenção de apresentar um trabalho perfeito. Sei de antemão que haverá nelle lacunas e até erros. A tarefa é por demais difficil, como prova o fracasso de outras tentativas.Para augumentar a difficuldade,tenho de lutar contra a rotina. E a rotina é tão poderosa que annulla or vezes as tentativas mais felizes, como a da genial Madame Pape Carpentier, na França. ( A rotina é filha da preguiça na maioria dos casos).

Acceitarei suggestões de todo o professorado intelligente e honesto que applicar este livrinho em suas classes, afim de com o tempo ir preenchendo as lacunas e corrigindo os erros, que só a pratica poderá apontar com segurança. A todos os que m’as apresentarem, desde já envio os meus agradecimentos.”

Percebe-se nas palavras de Othoniel um certo descontentamento com alguns professores da época, pela falta de vocação e interesse, entretanto, procurou se colocar em uma posição de diálogo , aberto às críticas do professorado honesto e inteligente.

Esse descontentamento ainda ocorre nos dias atuais, nas falas de alguns gramáticos.Veja-se: “embora ontem como hoje se aproximem nas mesmas perplexidades no que tange ao maltrato da língua nacional, comparado com o espontaneísmo e a confusão metodológica dos dias que correm , em matéria de gramática da escola. Ficou patente que os mestres de ontem se mostraram pouco produtivos para a gramática da escola. Mas os mestres de hoje, em grande parte, não apresentam ao magistério nem método nem ordem , de modo que o insucesso de hoje não pode ser medido pela mesma régua e compasso que se vão aplicar ao insucesso de ontem.”( Bechara, O lingúístico e o pedagógico nos textos de leitura, p. 35)

Em relação ao uso da língua na apresentação de Othoniel, pode-se afirmar que o certo de ontem, tornou-se o errado de hoje, fato que muitos gramáticos não levam em consideração ao colocarem o emprego de algumas palavras, como erradas ou inexistentes, não demonstrando a sua evolução e conservação; observem-se as palavras abaixo:

Ontem- Othoniel

Hoje

Grammatica

Gramática

Quasi

Quase

Intelligencia

Inteligência

Guella

Goela

Nullo

Nulo

Elle

Ele

Incrivel

Incrível

Possivel

Possível

Lingua

Língua

Sobrehumana

Sobre-humana

Ninguem

Ninguém

Methodico

Metódico

Logico

Lógico

Systematico

Sistemático

Necessario

Necessário

Praticos

Práticos

Efficientes

Eficientes

Illogismos

Ilogismos

Ancilla

Ancila

Excellente

Excelente

Escripto

Escrito

Auxilio

Auxílio

Appellam

Apelam

Supprimiriam

Suprimiriam

Comnosco

Conosco

Nelle

Nele

Ministerio

Ministério

Difficil

Difícil

Augmentar

Argumentar

Difficuldade

Dificuldade

Annulla

Anula

Acceitarei

Aceitarei

Suggestões

Sugestões

A todos os que m’as apresentarem , ...

A todos os que me apresentarem-nas...

Afim de com o tempo ir preenchendo ...

A fim de com o tempo ir preenchendo.

Othoniel definiu a gramática como “o estudo dos factos de uma lingua”, sendo que “o estudo dos factos de uma lingua, estudo que vem desde os sons que constituem as palavras dessa lingua, as modificações dessas palavras, as diversas categorias a que ellas pertencem , etc, é o que se chama grammatica.”

Dividiu a gramática em três partes : fonologia, morfologia e sintaxe.

“ A grammatica compõe-se de tres partes. A parte que estuda os sons ( vogaes, consoantes, dithongos, etc), chama-se phonologia.

A parte que estuda as diversas fórmas que as palavras vão tomando, para indicar o genero, o numero, o grau dos substantivos e adjectivos, os modos e tempos dos verbos, etc, chama-se morphologia.

Nestas duas partes da grammatica as palavras são estudadas separadamente. Mas há ainda outra parte que estuda as palavras relacionadas entre si. Chama-se syntaxe.”

Nas lições da Chave de Língua, podem ser verificadas as instruções pedagógicas dirigidas aos professores através de notas.

Para se tornar mais fácil a constatação das dificuldades que Othoniel julgou ter os alunos, as notas serão agrupadas em grupos.

I- Fonologia

“Nota. Aqui o professor fará ver ao alumno que as letras são seis, mas os sons apenas cinco , porque as letras i e y representam o mesmo som, como em coati e Javary.”

O alfabeto atual da língua portuguesa é composto de 23 letras, já o apresentado em Chave da Língua , é composto de 25 letras , contendo a mais uma vogal - y e uma consoante – k. O som kê era representado por três letras : c- catupé, ch- chimica e qu- quilombo e o som fê era representado pelas letras : f- chefe e ph- philosophia, sendo que atualmente não se usa mais a grafia ch nem ph para representar tais sons.

Nota. Não convém entrar na questão do semidithongos com os principiantes. Instinctivamente ellas os consideram como dithongos, e não lhes separam as vogaes na escripta, ao dividir as palavras. Deixe-se, pois, o caso para mais tarde. Tambem não sobrecarregar a lição com as vogaes nasaladas, que são aquellas em que o m ou n que se lhes segue não pertencem propriamente a ellas, mas à syllaba seguinte, não deixando, comtudo, de as nasalar, ás vezes de leve apenas, como na palavra camondongo, em que o a da primeira syllaba é levemente nasalado. Se a questão surgir nalgum espirito, o professor tratará então do caso.”

É interessante observar que nessa nota, Othoniel já trata de fonética, de variante lingüística , sem usar esses termos, ao assinalar a nasalização do a em camondongo. A Língüistica menciona este fato como um prolongamento do traço nasal na palavra inteira.

“Nota. Os professores observarão que insistimos neste exercício em fazer entrar o grupo consonântico nh . Assim o fizemos porque há um facto grave, que precisa ser encarado. Com a introducção do methodo de palavração, uma grande porcentagem de professores não faz o necessario exercicio de divisão das palavras em syllabas, dando isso como resultado que os moços e as moças deixam por vezes as nossas escolas secundarias sem saberem com segurança dividir uma palavra como sonho, fazendo-o desta fórma: son-ho.”

Atualmente, esse é um dos critérios para um aluno passar do ciclo I, do ensino fundamental para o ciclo II, segundo o parâmetros curriculares de LP : “Escrever utilizando a escrita alfabética, demonstrando preocupação com a segmentação do texto em palavras e em frases e com a convenção ortográfica”(p.120)

“Nota. Aqui o professor deve mostrar a verdade disto num trecho qualquer, de maneira que os alunnos não aceitem por dogma o que deve entrar na intelligencia pelos factos.”

Tanto adultos como crianças têm muita dificuldade de perceber a sílaba tônica em uma palavra, fato que talvez seja explicado por haver regionalismos múltiplos no Brasil, com cadências diversificadas de língua.

“Nota. Evitemos por enquanto os termos oxytona, paroxytona, proparoxytona”.

Esses termos ainda são freqüentes nas salas de aula e causam rejeição por parte do alunado , desde o nível Fundamental até o nível Superior.

II- Morfologia

Othoniel classificou as palavras em oito categorias: substantivo, adjetivo, pronome, verbo, conjunção, preposição, advérbio e interjeição. Portanto, não enquadrou o numeral e o artigo nessa classificação.

Nota. Para iniciar a intelligencia da criança, não convem dar-lhe noções abstrusas, que ella decora com repugnancia, porque não lhe é dado comprehender. Dizer a uma criança que o substantivo concreto é aquelle que tem existencia propria, ou coisa semelhante, é preparar o terreno para lhe tirar todo o gosto pelo estudo da lingua, que se lhe apresenta como uma especie de quebra-cabeça de horrorizar. Deixemos as noções metaphysicas para depois que a intelligencia estiver madura.”

“ Nota. Há algumas excepções quanto aos terminados em l, nos quaes o l permanece: mal, males; consul, consules”..

“Nota. Ha alguns que podem ter mais de uma dessas tres terminações, como aldeão, que pode fazer o plural aldeões, ou aldeãos. Não convem, no entanto, occupar a memoria dos alumnos principiantes com taes casos, uma vez que, podendo taes palavras formar o plural com a terminação ões, entram na regra commum.”.

Nesta nota, Othoniel parece usar um conceito da regularidade dos analogistas: transformar o que é irregular em regular.

“Nota. Há substantivos que, para formarem o plural, alteram o timbre da vogal tonica: tôco, tóco;, côrvo, córvos;pôvo, póvos: pôrco, pórcos, etc.”

Edward Lopes, em Fundamentos da Lingúística Contemporânea, p.157, menciona este caso de metafonia .“ Um bom exemplo de morfema redundante, em português , é dado pela mutação vocálica quando ela aparece para indicar, subsidiariamente, a noção de plural, em formas do tipo “porco” [‘porku], “porcos [‘pórkuz]; há aí um [ó], designativo de plural, sob forma auxiliar do morfema normal, também presente, {s}.

“Nota. Há algumas excepções, em que são uniformes.

“Nota. Padre-nosso tanto faz Padres-nossos como Padre- nossos.

“Nota ao Professorado. Não trataremos do grau dos adjectivos, porque é coisa que não existe em nossa língua como phenomeno morphologico,. O capítulo que tal supposto phenomeno existe em nossas grammaticas é uma prova de como, ás vezes, nos apegamos a fórmas ôcas do passado, transportando para o nosso meio aquillo que só vae bem em outro. Donde nasceu o capítulo a que nos referimos? Nasceu da grammatica latina, grega, allemã, ingleza, linguas nas quaes havia um phenomeno morphologico desapparecido nas linguas filhas do latim. Naquellas linguas, numa comparação em que entrava algum adjectivo, o crescer da qualidade expressa pelo adjectivo era indicado por uma mudança na fórma desse adjectivo. Por exemplo, em inglez: great, grande; greater, maior; gratest, o maior. O mesmo se dava em latim e nas demais linguas citadas.

Ora bem, julgou-se preciso achar um cantinho em nossas grammaticas para encaixar isso que havia em latim, embora não existisse aqui o phenomeno morphologico que havia lá! É um dos casos mais curiosos de acompanhamento passivo do cerebro humano, escravizado a fórmulas.

Concito o professorado a ver no livro “O meu idioma”, o capitulo em que fustigámos este contrasenso que só serve para torturar em vão a mente infantil.”

Apresenta-se aqui parte da nota feita por Othoniel em O Meu Idioma, a respeito dos superlativos: “É opportuno observar aqui que a theoria concernente aos graus dos adjectivos, e que se encontra não só em nossas grammaticas, mas nas grammaticas franceza, hespanhola, etc., é uma das que, a nosso vêr, mais revelam o quanto nós, em geral, nos achamos vinculados a fórmulas inuteis do passado. Applica-se ás linguas modernas, evolucionadas, com feições proprias, uma roupagem avita que por vezes as deforma e as faz ridiculas.”

Para tal observação, demonstra o gramático pender para a linha dos anomalistas, em que a natureza influi na língua, não podendo o falante controlar o seu uso.

“Nota. Quando a qualidade não pode deixar de existir no substantivo, como em estrella brilhante”, “pedra dura”, diz-se que o adjectivo é qualificativo explicativo. Quando a qualidade tanto pode estar como deixar de estar no substantivo, diz-se que o qualificativo é restrictivo. Por exemplo; “Um cavallo alto”. Aqui temos um qualificativo restrictivo, porque o animal cavallo tanto pode ser alto como baixo.”

“Nota. Apesar de serem perfeitamente iguaes as formas do futuro do conjunctivo e as do infinitivo pessoal em muitissimos verbos, como acontece nos tres que acabamos de conjugar, é facil distinguilas. O futuro do conjuctivo vem sempre precedido de quando ou se.”Quando eu partir”. Ao passo que o infinito vem precedido de preposições : “É preciso que elle chegue para eu partir”; “Eu tenho de partir”; “Elle se despediu , por partir à noite”.

Edward Lopes, para essa igualdade, explica que um único morfe representa dois morfemas diferentes, cujas oposições fonológicas foram neutralizadas e a única diferença entre eles é perceptível através do contexto.

“Nota. O erro communissimo que lemos frequentemente em nossos jornaes: “ O governo crêa esse lugar”, etc., é um disparate que mostra o descaso em que anda a nossa lingua.

Tal forma não existe. Por isso certa vez em que um habil revisor me poz um crêe, onde eu havia escripto crie, dei-lhe esta regra jocosa, que espero seja guardada pelos alumnos: “O e do verbo crear nunca traz chapeu na cabeça. Todas as vezes que você estiver querendo collocar-lhe esse chapeu, mude o e em i, que dá certo.”

“Nota. O verbo composto recrear conjuga-se como os demais verbos em ear: recreio, recreias, etc. – O verbo procriar é regular e entra na categoria dos verbos em iar,regulares, de que trata a lição seguinte.”

“Nota. Aqui devem ser feitos exercicios de conjugação de verbos regulares como ampliar, aviar, ciciar, confiar, copiar, desfiar, desviar, etc., ao lado dos irregulares. Taes exercicios devem ser feitos especialmente nas formas em que se revela a irregularidade nos seis verbos mencionados.”

“Nota. Convem fazer exercicios com estes verbos, pelo menos no presente do indicativo, e do conjuntictivo, até que o phenomeno se grave no espirito, em suas linhas geraes.”

“Nota. Compete aos professores fazer exercicios com estes verbos em todas as formas simples. E não devem deixar de fazel-o”.

“Nota. Este verbo é o único em que gerundio e o participio passado têm a mesma fórma.”

Aqui se trata do verbo vir .Gerúndio : vindo. Particípio: vindo. Reitera-se a conceituação de neutralização e contextualização, citada acima.

“Nota. Chamar a attenção dos alumnos para o erro vulgar: eu sube, em vez de eu soube.

“Nota. Chamar a attenção da classe para o erro eu truxe, em vez de eu trouxe.”

Nas duas notas acima, apesar de Othoniel ter apresentado as variantes do vulgar a serem mencionadas em sala de aula, atitude hoje interpretada como uma técnica de ampliação do contexto sócio-cultural em que o aluno vive, ele teve uma postura do gramático tradicional, quando apresentou a noção de erro, viabilizando somente o uso da norma culta.

“Nota. “Esta lição presta-se a um magnifico exercicio de composição e decomposição de vocabulos, com grande enriquecimento da mente infantil.”

“Nota. Este pequeno volume é introducção ao livro “Lições de Portuguez”, cuja primeira parte – a sentença simples- vamos tirar em separata.”

Ao findar-se essa pequena abordagem de Chave da Língua, percebe-se que seria relevante trabalhar as obras de Othoniel e de outros gramáticos, não só para se averiguar os conceitos de época e suas divergências, mas também para se verificar as possíveis tendências que um mesmo gramático pode assumir diante dos fenômenos da língua : anomalista ou analogista, a exemplo dos gregos antigos, as quais rumaram para os dias atuais, propiciando o surgimento de novas correntes lingüísticas e suas ramificações .

Deixa-se aqui um trabalho para que seja continuado a quem não se sentiu fatigado pelo assunto e que não lhe tenha sido tirado o gosto pelo estudo da língua.


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[1] Doutora em Semiótica e Lingüística Geral pela USP, Profª na FAMEC, na AEI e na Rede Estadual de Ensino.

[2] Para as informações acima, leiam-se Português, de Ana Teberosky e Coll, Dicionário de Lingüística, de Dubois e sites : http://www.eon.com.br/grego.htm; e http://www.marciobasilio.hpg.ig.com.br/Escrita.html