RESENHA
Os falares educacionais percorrem eixos
diacrônicos e sincrônicos da fala, pensamentos de esquerda, de direita, teorias
iluministas, marxistas, behavioristas, piagetianas, freudianas, de Darwin, de
Vygotsky, de Skinner, de Chomsky, Roxane Rojo,Joaquim Dolz, dentre muitos
outros. Despertam adversidades, estabelecem amálgamas, tentativas de rupturas
com um passado educacional, mas ao mesmo tempo há retomadas de teorias e
comportamentos.
Mediante um espectro de metodologias, ainda
profissionais da Educação caminham por labirintos em relação à questão de
ensino-aprendizagem. Nela, tudo é medido, mensurado, mas os resultados sempre
colocados na mídia, em especial, no Brasil,mostram-se aquém do esperado pelo
sistema mundial, pois índices apontam qualidade baixa de ensino.
Os
professores, educadores, pesquisadores, visando a um novo cenário educacional
no Brasil, buscam novas tecnologias e alternativas , tentam novas maneiras e
olhares para a práxis educacional. Para isso, além de cursarem programas de
pós-graduação, pesquisarem, frequentarem cursos de formação, podem receber
bolsas concedidas por Órgãos Governamentais, bem como de Fundações e Institutos
Privados.
A
Escola Caetano de Campos é a antiga Escola Normal Caetano de Campos fundada inicialmente em
16 de março de 1846 e funcionava no
prédio anexo à Catedral da Sé velha . Foi transferida para a Praça da
República para o edifício projetado por Antônio
Francisco de Paula Sousa e Ramos de Azevedo inaugurado em 1894 onde atualmente
está instalada a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. A escola ao
sair desse edifício, em 1978 foi transferida para o bairro da Aclimação, em uma edificação moderna, situada no antigo
terreno da Faculdade de
Veterinária da Universidade
de São Paulo.
Atualmente, a escola em
sua proposta pedagógica fundamenta-se na lei de Diretrizes e bases da Educação
Nacional- LDB 9.394/96, na Constituição Brasileira, no Estatuto da Criança e do
Adolescente, no disposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais- PCN e no
Currículo da Secretaria de Estado de Educação . Seu quadro de estudantes se
alterou, pois não são mais normalistas a estudar e levar o conhecimento para o
restante do Brasil, mas um lugar ocupado e vivenciado por alunos, cerca de
1800, da capital e provenientes de várias regiões do Brasil, em
particular, do nordeste. Trazem cada um
em seu bojo, as marcas da linguagem que os distinguem, quer pela renda da
classe média àquela ao limite da miséria, quer pela fala em que se notam as
diversidades de experiências sociais, do conhecimento e língua falada e
escrita.
A equipe gestora também é recém-chegada,
apenas 6 meses de interação entre todos os envolvidos na comunidade escolar.
Após o acolhimento, a apresentação e a análise dos resultados obtidos pela
escola, foi possível perceber que é preciso ter uma metodologia diferenciada
diante da geração Y, metodologia esta que não foi vivenciada pelos educadores
enquanto alunos. Talvez este seja um ponto forte para a resistência enfrentada
em nossa rotina escolar. Saudosismo não é o caminho, mas renovar e reinventar
as metodologias, com certeza, é a luz necessária.
A
observação em sala de aula como uma metodologia colaborativa de trabalho pode
tornar-se tema de formação continuada para todos os membros da equipe
escolar. Tal prática estabelece maior
cumplicidade e proximidade entre a equipe gestora, professores e alunos. A tomada de decisões subsidiadas pela reflexão
e elaboração conjunta de um plano de ação, além de efetivar a interação entre
os envolvidos facilitando o diálogo pedagógico e a escolha das estratégias a
serem utilizadas para a melhora do ensino.
Diante
da diversidade cultural, a professora Vera Lúcia Grando sentiu a necessidade
de desenvolver um trabalho, o qual englobasse leitura e escrita. Pesquisou na
Sala de Leitura da escola a oferta de títulos. Dentre eles havia um livro
apenas que possuía exemplares o suficiente para duas classes “Olhai Os Lírios
do Campo”, de Érico Veríssimo. Este livro também foi recomendado pela
coordenadora da época Lielza Letechebere, uma vez nele há o gênero textual “memória” e o livro relata as memórias do personagem Eugênio, quando se encontrava na fase
adulta.. Esse gênero é apresentado no caderno do aluno do 7º ano, 6 série, V.1,
fato que favoreceu a escolha do livro.
Os exemplares foram
distribuídos para duas classes em que a
Professora Vera leciona, 6ª A do curso
matutino e 6ª C do curso vespertino. A sexta série C contou com a colaboração
de alguns alunos do Curso de Letras,da Universidade Mackenzie, uma vez na semana,
em uma aula: Camila Nogueira, Camila Concato, Palloma Dos Santos , Rodrigo
Sillhos.
Logo nos primeiros dias
de aula do primeiro bimestre, foram distribuídos os exemplares para os alunos.
Os alunos ficaram contentes com a iniciativa de leitura de livro em classe.
A professora Vera,
seguindo a visão de Roxane Rojo entre outros, no que concerne à capacidade de
leitura e às técnicas de abordagens, começou fazendo a ativação de conhecimento
de mundo por meio da análise dos elementos paratextuais da
capa,contracapa,folha de rosto, uma checagem de conhecimentos prévios acerca do
título e dos desenhos contidos nele, perguntando-lhesque pistas a capa/suporte,
dava para o conhecimento do gênero que
seria estudado. Muitos alunos responderam às perguntas dizendo que talvez se
tratasse de uma história que retratavapersonagens do campo, mais precisamente
de uma história de amor.
Foi realizada a leitura
compartilhada dos prefácios, um de Flávio Loureiro Chaves, Doutor em Letras, e
outro do próprio autor Érico Veríssimo,
escrito em 1966 e foi questionado se os discentes se eles já conheciamo o autor
e se haviam lido algum título apresentado nos prefácios, ao que responderam que
o sobrenome não era estranho e que não tinham lido sequer um título ali mencionados .
A leitura compartilhada
do livro por fruição foi o próximoo passo do trabalho. Cada um lia um
parágrafo. Inicialmente, os alunos reclamaram do vocabulário e da dificuldade
de ler as palavras, mas entenderam que se tratava de um livro de memórias. Depois
de três semanas,a leitura ficou a critério do aluno, o qual lia o quanto quisesse. Alguns alunos queriam
ler duas, três páginas e outros apenas um parágrafo. A seguir, passou-se a ler
uma página para cada aluno, determinando a leitura pelo número de chamada de
modo que aquele que quisesse treinar a leitura em casa poderia se preparar
melhor para ler em classe. Por fim, cada um lia uma página sem ter que
determinar antecipadamente. Notou-se uma melhora sensível e gradativa. A leitura da obra continua, faltam ainda
algumas páginas.
A docente Vera Lucia
trabalhou filmes para que os alunos pudessem compará-los com o livro
aproveitando para fazer as capacidades de leitura em relação à localização de
informações, elementos da narrativa, às comparações de informações, vivências
semelhantes ou diferentes por parte dos alunos, às generalizações, impressões e
síntese do texto, às inferências locais, análise semântica e levantamento de
dados, estudo da língua, às percepções de relações de intertextualidade e
interdiscursividade, partes ou palavras do texto e, produção de textos e
intertextualidade.
Narradores de Javé, dirigido por Eliane Caffé apresenta
relatos, memórias. Os alunos perceberam essa intersecção com o livro que traz
memórias da personagem Eugênio, além deser um tópico do caderno de aluno, 7º
ano, v.1 a ser estudado. Vejamos abaixo um exercício de compreensão trabalhado
em classe e postado no blog da escola www.aposaaula.blogspot.com .
O segundo filme apresentado foi O Menino do Pijama Listrado,
dirigido por Mark Herman deu aos alunos a noção do que foi o nazismo e quem era
o Kaiser temido pela personagem Eugênio.
O terceiro vídeo apresentado aos alunos foi o
Documentário
1932, sobre MMDC e a Revolução Constitucionalista, material produzido
pela SE, que permitiu uma introdução sobre Getúlio Vargas.
Além dos filmes, a professora Vera fez
pesquisas e um paralelo sobre nazismo,
fascismo, stalinismo, racismo para que os alunos entendessem esses pontos
abordados no livro pelas personagens e
tivessem mais clareza sobre o contexto de produção do livro. Também foi feito
um levantamento de cinquenta palavras desconhecidas pelo grupo de alunos , uma
média de seis grupos por classe, encontradas no livro. Ressalva-se ainda que
não terminamos a leitura do livro.
Outras atividades em classe contribuíram não
só com o desenvolvimento de itens do caderno do aluno como também com a
interpretação do livro : “Olhai os lírios do Campo”, de Érico Veríssimo . Como
por exemplo, a releitura do primeiro
capítulo do livro que resultou em uma revisão sobre o que é notícia , sua
estrutura, abrangendo os seus vários segmentos e canais de comunicação.
A confecção de uma notícia escrita a respeito da morte de Olívia, personagem do livro,
também é outro exemplo de atividade proposta. Neste caso, nem todos os alunos
fizeram, mas aqueles produziram, leram a seguir para a classe. Vale ressaltar
que o desfecho de morte de Olívia teve um final e contexto diferente nos
trabalhos apresentados, pois até naquele momento, sabia-se que ela havia
morrido, mas não era de conhecimento dos leitores a causa da morte, somente que
ela não sobreviveuà uma cirurgia.
Os alunos recortaram
cartazes e pintaram seus microfones para o trabalho seguinte. Elaboraram uma entrevista para fazê-la ao vivo, seus
entrevistados foram amigos, médicos, pais. Durante a apresentação alguns
trabalhos foram filmados com as devidas autorizações documentadas dos pais de
alunos.
Concluindo o trabalho,
os gêneros música e poesia para Margaret, personagem do livro, também tiveram
seu lugar de destaque, onde os alunos leram , cantaram e fizeram poesias. E por
fim houve uma confecção de cartazes para representar o bullying que Genoca
sofreu na escola, personagem do livro.
Outra experiência selecionada
foi a da professora Jurema realizada junto às 8ªs séries, que colocou em
prática a sugestão do MGME com o conto “O MEU PRIMEIRO BEIJO”.
Esta abordagem teve por objetivo explorar,
desenvolver e ampliar as estratégias de ensino da leitura.
Os elementos
paratextuais também foram explorados pela professora Jurema ao apresentar o
conto em seu suporte original. Em seguida houve um questionamento para checar
as hipóteses dos alunos, juntamente suas antecipações/predições. No decorrer da
leitura e após sua conclusão as intervenções realizadas favoreceram a melhor
compreensão da obra.
A interdiscursivade com
o filme “Meu Primeiro Amor” foi trabalhada igualmente à experiência
anterior com a professora Vera.
Uma poesia produzida pelos alunos foi a
proposta da professora, que, após análise do material coletado, pode verificar
que houve um resultado bastante produtivo e a participação atuante dos
educandos.
Ao finalizarmos, esta apresentação, podemos
dizer as metodologias sugeridas nos cursos de atualização da SE, Diretoria de
Ensino foram aplicadas e temos resultados de trabalho, mas o quanto cada aluno
assimilou, transformou-se, adquiriu a sua cidadania, será motivo de novas
pesquisas e observações ao longo de suas vidas.
Referências
MEC. Lei de Diretrizes e Bases-
LDB, 1996.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais.
Língua Portuguesa. Brasília:MEC/SEF,
1998.
ROJO, Roxane.
Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. São Paulo: SEE:
CENP,2004. Texto apresentado em Congresso realizado em maio de 2004.
SE. Curso de Formação do Estado de São Paulo,
2010.
SE.Currículo do Estado de São Paulo-
Linguagens, Codigos e suas Tecnologias,2010
VERÍSSIMO, Érico.Olhai os Lírios do Campo. Companhia das
Letras.8ª
impressão,205.
Apresentação feita na De Centro-SUL 14/08/2013
Um comentário:
Muito interessante a resenha! Gostei especialmente por compartilharem atividade que podemos desenvolver em sala-de-aula, como, por exemplo, transformar o trecho do livro de Érico Veríssimo em que Olívia morre em uma notícia para as nossas 6as séries que têm a notícia como proposta de produção textual.
Grata.
Maria
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