sexta-feira, 23 de abril de 2010

Abolição

Reflexões sobre o Léxico de Abolição

Vera Lúcia Grando

Drº. em Lingüística pela USP.Professora na UNISANTOS, na UNICLAR, no IEPAC e na Rede Estadual de Ensino.

Maria Aparecida de Souza Krusique

Mestra em Lingüística pela USP. Diretora da E.E.Profa.” Ilka J. Germano”

Nestes 500 anos de Brasil , período de reflexões sobre os fatos ocorridos que nos legaram a cultura atual, é de grande valia fazer algumas considerações gerais sobre o negro escravo e o liberto.

1 - ABOLIÇÃO

Já , bem antes de 1888, ano da abolição, abriam-se no país novas perspectivas para o capital. Investir em mercadorias tipo escravo significava mau negócio, pois essa se
depreciava a olhos vistos e estava condenada a desaparecer.

A mentalidade dos fazendeiros das zonas mais dinâmicas se modificava. Não queriam mais comprar escravos, mas livrar-se deles. Esses fazendeiros eram pessoas , que por motivo de comércio ou outros já estavam integrados à vida citadina, o que prova ser o movimento abolicionista essencialmente urbano se expandindo para o campo a fim de quebrar a resistência dos ruralistas ao movimento, para com isto se conseguir a reforma desejada.

Os conflitos de abolicionistas com os mais tradicionais fazendeiros que ainda resistiam a idéia de libertação aos negros acabou, quando a igreja se manifestou oficialmente em defesa dos cativos e por uma representação dirigida à Princesa pelo Clube Militar solicitando que os destacamentos do exército fossem dispensados de capturar os negros fugidos, esses fatos contribuíram de maneira decisiva para que fosse posta em lei a extinção imediata e incondicional da escravidão.

2 – NEGROS NA CIDADE

A liberdade provoca o êxodo total do negro do campo para a cidade sem estarem preparados para enfrentar o trabalho nas indústrias e comércio, não se adaptaram, de


imediato, às exigências do novo tipo de vida, foram então se amotinando nos arredores da cidade dando origem aos mocambos e favelas, acostumaram-se aos vícios da vadiagem e do alcoolismo, tornando-se marginais da sociedade.

A abolição que antes era um tráfico de luta pela igualdade e liberdade para o negro, tornou-se o tráfico da pobreza sem futuro e sem dia seguinte. Não tinham defesa jurídica, social e econômica, pois o movimento abolicionista extinguiu-se com a própria abolição. A liberdade nesta fase assumiu o papel mais degradante possível dentro da escala social.

3 – O NEGRO NAS ARTES

No decorrer destes 112 anos de abolição, recebemos, através da história, informações sobre os costumes de diferentes tribos negreiras, descrições sobre ritos e cultos religiosos, contribuição do negro na culinária brasileira, na dança e que enriqueceu de muito o folclore, não menos deixaram de ter influência em outros setores das artes e das ciências.

O negro, mulato e mestiços não deixaram de se apresentar como grandes poetas e literatos nesse período, colaborando com a formação da cultura brasileira.Atualmente ainda tentam através das artes, conquistar o sentido de liberdade real com o resgate do sema “igualdade” num processo de superação da cor e pobreza do Negro.

Nos dias de hoje, já existe um vastíssimo elenco de negros que são cabeças atuantes nas diversas modalidades do setor artístico e esportivo, apesar de ainda serem poucas as notícias de Negros atuando substancialmente em outros setores da sociedade, ou seja: Educação, Saúde, Política, Força Armadas, Igreja e outros.

4- PRECONCEITO RACIAL E PERDA DE IDENTIDADE

A leitura de livros e de muitas revistas especializadas trazem artigos cujos depoimentos de Negros dos vários segmentos da sociedade, comentam e refletem sobre o seu maior impedimento na relação Branco e Negro sob a égide propagandista da ‘igualdade”que traz no seu bojo o preconceito racial , pedra irremovível instaurada no caminho à liberdade.

REFLEXÕES SOBRE O LÉXICO DE ABOLIÇÃO

Nestes 112 anos da abolição, a idéia da democracia racial ganhou ares de verdade incontestável, levando a sociedade brasileira a sentir-se isenta de pensar no problema étnico, uma vez que há igualdade para todos não há necessidade de fixar regras, o que desmobilizou o negro de suas ações em prol da liberdade para se organizarem e terem garantido o seu próprio pensamento.

A catástrofe disso tudo é que o Negro , no Brasil, ainda luta para conseguir sua identidade, arma importante no combate ao racismo.

A exemplo de outros países como Estados Unidos e África do Sul, onde o racismo é mais franco e totalmente aberto e que dá condições aos negros de se defenderem e lutarem contra a discriminação, o Brasil mostra ao contrário o racismo de forma implícita, onde não existe conflito aberto, é maior a dificuldade para que a discriminação seja superada.

No Brasil, quando por acaso, o negro sobe na escala social perde a sua identidade, a própria classe média negra passa a renegar a sua origem para adotar os padrões do branco, mesmo que isso acabe se revelando uma ilusão.

2000, a lideranças negras ainda estão preocupadas em conscientizar os próprios negros da importância de sua identidade, e como conseguir isto? O Negro precisa mostrar o que ele é , o que sente e o que quer, para ser respeitado pelo Branco do Brasil, caso contrário, continuarão aceitando e vivendo neste racismo difuso e mascarado que determinam as regras do jogo vigentes, cuja maior força racista é dizer que não é racista.

A propósito mencionemos o dizer do professor e lingüista francês Jacques Vigueror: “a linguagem é identidade e resistência. A palavra situa o homem entre o alfa e o ômega, entre o início e o fim. A escravidão destruiu a linguagem, fez do negro um filho de ninguém. É preciso resgatar essa identidade.”

PROCEDIMENTOS

Sem nehuma pretensão de esgotar o assunto tentaremos analisar o texto jornalístico intitulado “ O exemplo de Cruz e Souza” de Jorge Konder Bornhausen – Folha de São Paulo – 13/05/88.

Procuraremos nos basear em leituras tais como:

“O léxico da simpatia” de Mário Vilela , que desenvolve um modelo de análise semântica numa perspectiva sincrônica e diacrônica da palavra simpatia num período de 50 anos expondo a relação de significado e significante, cada vez que “simpatia” muda de sentido de acordo com a época, o texto e contexto que a insere. Mostra também a relação de polissemia, homonímia, sinonímia, antonímia, hiperonímia e hiponímia correlacionadas com seus co-hipônimos numa visão ampla , do ponto de vista, diafásico e sinfásico.

“História e lingüística” de Regine Robin nos deu parâmetros seguros para através de seu método, trabalharmos o texto tendo como base as palavras- tema, palavra- chave e palavras de caracterização.

Robin baseou-se nas definições de P. Guiraud, que definiu palavras- tema como as que representam 9% do discurso. Geralmente são encontradas em todas as frases. E é em torno delas que o pensamento se organiza; é quase impossível exprimir uma idéia sem recorrer a elas. Palavras de caracterização são as que possuem baixa freqüência e de grande restrição de sentido, sendo portanto muito precisas. Robin discorda da definição de palavra – chave dada por Guiraud, pois, considera que essa definição coloca problemas; para ele, palavra – chave é qualquer palavra que num corpus composto de subconjunto; é característica de um ou vários subconjuntos.

“Servimo-nos de livros de história de conceituados autores, dentre eles : Sérgio Buarque de Holanda, Emília Viotti da Costa, Lilia Moritz Schwarcz e outros, leituras estas que nos mostraram a caminhada do Negro desde a 2a metade do século XVI até um pouco além de 1888; a partir daí passamos a tomar conhecimento da trajetória do Negro até 1988, com leituras de revistas especializadas, pesquisas fornecidas pelo IBGE, relatórios provindos da própria comunidade negra repassados à sociedade, através de simpósios, jornais e televisão .

Levantou-se o total de palavras encontradas no texto. Dentre todas as classes, tomaram-se os substantivos contando as ocorrências de repetições e a de não repetições. Calcularam-se as percentagens de substantivos no total do texto; de substantivos de

repetições no total do texto; de substantivos excluídos nas repetições no total do texto. Em um segundo momento foram calculadas as porcentagens de substantivos de repetições no total de substantivos e de substantivos excluídas as repetições no total de substantivos.

Numa segunda etapa, tomando-se pausadamente os substantivos encontraram-se as palavras- chave, palavras-tema e palavras de caracterização , que posteriormente, foram empregadas numa relação de hiponímia.

A palavra chave é o hiperônimo, as palavras-tema são os co- hipônimos e as de caracterização são utilizadas para fazer parte do conjunto semêmico de cada co-hipônimo. Estabeleceram- se os conjuntos e analisaram-se as intersecções entre eles tendo um núcleo comum.

Como objeto de nossa análise, destacamos do texto a palavra “abolição” por ser mais abrangente e embora possa ter vários significados, ela sempre nos remeterá , em nosso contexto social, para a abolição da escravatura.

Foi feito um levantamento dos vocábulos considerando-se os sentidos conotativos, denotativos, os quais foram colocados numa tábua sêmica.

RESULTADOS

No texto, encontram-se 559 palavras com um total de 149 substantivos, dos quais há cinqüenta ocorrências de substantivos de repetição e 99 ocorrências de substantivos sem repetição.

A porcentagem dos substantivos no total do texto é de 26,65% .

A porcentagem dos substantivos de repetição no total do texto é de 8,94%.

A porcentagem de substantivos sem repetição no total do texto é de 17,71%.

A porcentagem de ocorrências de substantivos sem repetição do total de substantivos é de 66,44%.

A porcentagem de substantivos de repetição do total de substantivos é de 33,56%.

O corpus apresenta, dentre os substantivos, palavras-tema, com a porcentagem de 11,98% do discurso, escravo com uma freqüência de cinco vezes cada ; abolição, ascensão, base, Brasil, brasileiros, caminho, descendente, domínio, economia, elemento, esteios, formação, letras, oportunidades, papel, e trabalho, com freqüência de duas vezes cada.

Apresenta, também, palavras de caracterização, com uma freqüência no discurso: agro-indústria, América, anos, assistência, braço, café, campos, capital, centenário, cidadania, cidadãos, colônia, construção, contingentes, contribuição, costumes, crenças, crianças, desenvolvimento, Desterro, dificuldades, distorção, dívida, empenho, ensino, escola, escolar, escravatura, espanto, exemplos, fato, figuras, filhos, forço, função, gênio, glórias, igualdade, inteligência, meios, mestiços, Minas Gerais, música, nacionalidade, oferta, ouro, passado, população, posição, prática, preconceito, problemas, quadro, qualidade, raças, rumo, reflexão, regras, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Sensibilidade, sociedade, talento, termos, terra, usos, Vale do Paraíba, vida, e virtude.

A palavra chave encontrada dentro do corpus é “negro”, com uma freqüência diferençada das demais : seis vezes.

Em uma relação de hiperonímia, a palavra negro contém as palavras –tema e de caracterização. As palavras- tema contém as palavras de caracterização.

O texto não possui um núcleo comum entre as palavras-tema. Há um conjunto intersecção vazio.

Esse resultado deixa algo a desejar, quanto ao processo de execução do texto, porque existem nele subconjuntos que se relacionam entre si paradigmaticamente, mas não no conjunto do texto.

Parece ocorrer uma anulação dos temas abordados pelo autor, porque há uma abundância de termos genéricos, sem haver uma delimitação do assunto.

Esse vago reflete esses cem anos de abolição: o desinteresse dos vários segmentos sociais brasileiros em relação à problemática do negro, que foi motivo para a Abolição, a fim de resolver problemas de interesse da sociedade, num dado momento da história Política, Econômica e Social do país.

Segunda Análise

O enunciador do texto em análise é Jorge K. Bornhausen que tem como enunciatário o leitor, o assunto da comunicação entre eu/tu é o hiperônimo abolição correspondente a ELE no eixo de comunicação. Hiperônimo este, que no texto em voga se relaciona diretamente com Negro que passa ser seu co-hipônimo, pois abolição contém semas que legitimam Negro em toda sua extensão gramatical e cultural.

Numa segunda instância , Negro torna-se hipônimo, por ser abrangente em relação a seu- co-hipônimo escravo que contém semas de trabalho, tal como, se lê no 2o parágrafo “... o trabalho escravo se criou e se consolidou a primeira base econômica em que assentou a colônia portuguesa na América: a agro- indústria do açúcar..., o ciclo do ouro nas Minas Gerais,... o do café, no Vale do Paraíba”.

O 3o parágrafo nos fez retomar o hipônimo Negro, já com a exposição de outros semas que integram a cultura brasileira são eles: talento, empenho, arte, costumes, usos, crenças, letras. Ainda, neste parágrafo parece haver um acordar do enunciador para o enunciatário através do co-hipônimo <> que nucleia duas forças de um só hipônimo, que é o Negro enquanto escravo e símbolo de mão- de- obra e o Negro talentoso, que se distingue e impõe sua marca na vida intelectual do país.

O enunciatário pelas peculiaridades específicas deste 4o parágrafo, assume o papel de personagem principal do texto para revelar e quem sabe, até justificar a sua partipação direta na história, a fim de legitimar sua presença nos 100 anos da abolição, espaço este do discurso que ocupa como personagem e muito menos como autor-enunciatário, no sentido de jogar com forte emoção ao falar do hipônimo Cruz e Souza que elimina abolição através do co-hipônimo “poeta simbolista da literatura brasileira”, sintetizando aí a superação dos demais co- hipônimos: talento, inteligência, igualdade, preconceito e identidade.

A indagação do enunciador explícita no 5o parágrafo parece ser um instrumento de persuasão para levar o leitor a repensar a situação do negro neste país, e para isto relega o Negro à sua condição mais inferior na escala social, apontando que mesmo pelo talento, empenho e arte muitos Negros não conseguem a ascensão nos diversos ramos da cultura . Convém ressaltar que a impressão que temos é que ascensão social para Bornhausen é apenas uma máscara que serve para encobrir o impedimento à ascensão econômica do negro.

O enunciador no 6o parágrafo parece querer chamar a atenção do leitor para o seguinte: se no parágrafo anterior o Negro encontra dificuldades para sobressair ,contando com o seu talento , desempenho e arte, força raramente invencível, e de difícil controle externo por se tratar de fatores prévios da intersujetividade do Eu, por outro lado o Negro está totalmente impedido de ascender socialmente , porque ele é combatido diretamente pela própria sociedade através do forte preconceito racial que ela traz encrustada na sua imanência. Ainda neste parágrafo os mecanismos da discriminação são dissimulados quando o enunciador sugere que melhores condições de ensino e assistência ao escolar proveniente de meios materialmente carentes seria a solução, pois é de praxe no país, jogar para a Educação todos os fracassos advindos dos órgãos governamentais e das classes privilegiadas, que se negam a implantar e executar um programa de ação total para erradicar o preconceito da cor e da pobreza.

No 7o e último parágrafo, o enunciador convida a sociedade via leitor a “a resgatar a dívida social com a população brasileira de origem africana”, dando desta forma aos Negros chance para a conquista da cidadania plena, para isto, são necessárias propostas de mecanismos que levam à transformação da própria sociedade.


ESQUEMAS

Na tentativa de sermos mais claros, procuraremos discorrer um pouco mais sobre as palavras e as relações de hiperonímia já mencionadas, através dos esquemas apresentados.

Nos esquemas, há relações de hiperonímia estabelecidas, onde o significado e o significante se interagem .


I-

ABOLIÇÃO


NEGRO




A palavra Abolição da forma que aparece no esquema I é um hiperônimo, abrange um número maior de semas, produzindo de maneira extensiva interpretações diversas. Seu hipônimo é a palavra negro , contida dentro de todo o contexto de abolição , é específica , porque possui um número menor de semas e realça abolição a partir de 1888 no Brasil ,tendo como característica um sema marcado em comum: escravos.

II- NEGRO

DESENVOLVIMENTO

ASCENSÃO


PRECONCEITO


IGUALDADE


RESGATAR TALENTO



No esquema II, a palavra negro é um hiperônimo e seus co- hipônimos são: espanto, desenvolvimento, ascensão, preconceito, igualdade, resgatar e talento. A palavra negro se torna mais extensiva, visto que, seus co- hipônimos possuem semas comuns. A palavra negro aparece no texto ligada à palavra desenvolvimento, porque ele serviu de trabalho braçal nos ciclos de cana-de-açúcar, do ouro e da produção cafeeira no Estado de São Paulo e outros locais do Brasil, à palavra espanto por existir o preconceito negativo quanto ao seu talento, à sua igualdade, à sua ascensão nos domínios da cultura. Discursa-se em resgatar a dívida social com a população brasileira de origem africana, mas não se apresentam propostas viáveis de como resgata-la.

Para Ecléa Bosi, quando o espanto ocorre há toda uma transformação, uma superação de um preconceito, o que possibilita uma igualdade social, por isso no texto o autor diz que causa espanto o fato extraordinário - ascensão de negros e mestiços nos diversos domínios da cultura.

III-

NEGRO


CRUZ E SOUSA



Esquema III, Negro é um hiperônimo e Cruz e Sousa , seu hipônimo.

Cruz e Sousa é o exemplo dado no texto, haja vista o seu título. “Ele” é um símbolo, um modelo de vida para os negros que querem ascender na escala social, deixou uma ideologia carregada de um esteriótipo, fazendo com que aqueles que o imitam , criem seu próprio conceito de superação, desfavorecendo todo o seu grupo, porque sabe-se que as oportunidades são restritas e somente uma força muito grande de luta possibilita o indivíduo a crescer e chegar à superação.

Conclui-se, então, que somente alguns conseguem cavar as oportunidades através da sua força mental, de sua reflexão perante a vida.

Cruz e Sousa

IV

Superação

Talento


Poesia


A palavra Cruz e Sousa, no esquema IV é um hiperônimo. Superação, talento e poesia são seus co-hipônimos.

Cruz e Souza consegue sua superação, porque domina a língua padrão: criador de poesia simbolista, onde os símbolos acústicos e pictóricos se interagem , formando uma linguagem própria dele. Através dela, consegue passar por vários universos de discursos . Seu discurso desloca-se da cidade de Desterro, onde nasceu para o universo de Santa Catarina, que é ampliado para o território brasileiro e internacional.

Sua linguagem causa espanto, quebra preconceitos e torna-se símbolo ideológico.

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Jorge Konder Bornhausen

O exemplo de Cruz e Sousa

Quando o Brasil comemora 100 anos da abolição da escravatura é oportuna uma reflexão sobre a contribuição do negro à formação da nacionalidade, bem como a respeito das condições em que se encontram os descendentes dos antigos escravos.

É hoje reconhecido por todos o papel fundamental que representaram os contingentes trazidos `força para a construção da economia brasileira e o desenvolvimento do país. É sabido que foi sobre o trabalho escravo que se criou e se consolidou a primeira base econômica em que assentou a colônia portuguesa na América: A agro- indústria do açúcar, até hoje um dos esteios das região nordestina. Ao ciclo do açúcar sucedeu, sem extingui-lo, o ciclo do ouro nas Minas Gerais, sempre amparado no braço escravo do negro africano. Até que surgisse um novo ciclo econômico, o do café, no vale do Paraíba, igualmente tendo por base o trabalho do negro.

Como se não bastasse esse papel de esteio da economia, os negros do Brasil contribuíram, com o seu talento, com o seu empenho e arte, para a formação da cultura nacional, quer nos costumes e usos, quer nos campos das artes e das letras. E causa espanto,sem dúvida, o fato extraordinário que significa a ascenção de tantos negros e mestiços, por vezes filhos de escravos,como figuras notáveis nos diversos domínios da cultura. Nas artes plásticas, na literatura, na música, o elemento negro distinguiu-se e impôs a sua marca na vida intelectual do país.

E aqui quero prestar homenagem a um grande poeta negro nascido e criado em Santa Catarina e que se tornou uma das maiores glórias das letras pátrias: João da Cruz e Sousa.Vale recordar que o gênio de Cruz e Sousa já se havia revelado em sua própria terra, na antiga Desterro , não obstante o meio acanhado e provinciano que então representava a capital catarinense. Isto é, o valor do poeta, em termos de sensibilidade artística e inteligência, foi capaz de sobrepôr-se a todas as dificuldades, até levá -lo à posição , já no Rio de Janeiro, de maior poeta simbolista da literatura brasileira universal.

O caso de Cruz e Sousa nos leva a meditar sobre o problema social do negro em nosso país. É certo que os descendentes de escravos tiveram de partir de condições muito adversas e penosas, colocados no nível mais baixo da escala social. Não desfrutaram das mesmas oportunidades que tiveram brasileiros de outras origens étnicas. Nestas condições, quantos Cruz e Sousa deixaram de abrir o seu caminho e emergir nos diversos ramos da cultura brasileira?

Na prática, o elemento negro sofre menos em função do preconceito racial propriamente dito do que em virtude do baixo nível de vida herdado do passado.No centenário da abolição cumpre-nos a todos nós, brasileiros de todas as raças, tentar corrigir esta distorção procurando propiciar igualdade de oportunidades a todos os cidadãos, o que a meu ver, deve começar pela oferta de ensino fundamental da melhor qualidade possível a todas as crianças, acompanhada da necessária assistência ao escolar proveniente de meios economicamente carentes.

Resgatar a dívida social com a população brasileira de origem africana é trabalhar para abrir a todos os caminhos de ascensão ao nível da cidadania plena, no quadro de uma sociedade liberal e progressista.

Trabalho publicado na Revista da Uniclar, maio de 2001, Ano III, número 1, ISSN 1517-2546.

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