FALAR
DA MORTE, É FALAR DA VIDA!
Max Willian
Em uma de minhas aulas,
em uma das escolas estaduais em que leciono, o assunto “morte” – de mansinho –
surgiu. Ele não brotou de modo rebuscado, polido e acadêmico. Mas, no doce
falar de quem mal opina, questiona ou impõe-se em determinados assuntos
debatidos em sala de aula. Daquela vez foi diferente!
A garota levantou a mão
educadamente e disse: “professor, não gosto do assunto morte, pois ele causa-me
– sempre que penso – arrepios, tristeza, medo do por vir e falta de segurança”.
A aluna ainda ressaltou que se soubéssemos de que maneira chegaríamos ao fim da
vida, possivelmente, enlouqueceríamos. Achei incrível as suas ideias, o seu
modo doce de falar e seus apontamentos sentimentais sobre esse tema tão complexo.
Assim, resolvi ler, pensar, repensar e escrever sobre o assunto do fim.
Para isso, seremos
auxiliados por duas perspectivas: a da Biologia e uma simples, porém profunda,
frase de Simone de Bouvard – filósofa do século XX.
De modo geral e de
acordo com a Biologia, nascemos, nos desenvolvemos, chegamos à adolescência, à
fase adulta e, por fim, à velhice – isso quando nos é permitido, afinal moramos
numa sociedade assustadora, criminosa e, portanto, violenta! A fase da velhice
é marcada – dentre outras – pela grande proximidade da morte. Mas, o que seria
a morte segundo a Biologia?
Não existe palavra sem
pessoa. Não existe palavra que anda sozinha pelas ruas das nossas cidades. Muito
menos, conceito. Por isso, a morte marca o fim de um ciclo de vida na pessoa. Marca
o fim de um processo familiar. Marca o fim de relacionamentos em sociedade. De
modo frio, tudo isso acontece quando um corpo entra em seu completo estado de decomposição.
No entanto, há intensas
e acaloradas discussões biológicas que nos demonstram – talvez, até provam! –
que há células que não deixam de existir, outras que servem de adubo e, por
fim, células que dão vida a outros tipos de vida. Desse modo, resta-nos uma
pergunta, uma vez que é necessário considerar as variáveis da Biologia: o que,
portanto, define o fim da vida? O que define a morte humana?
A morte humana é
definida com o fim da capacidade de utilizar a razão, a consciência. Sendo
assim, define-se pela incapacidade do indivíduo de não poder mais abraçar, sentir,
cheirar, beijar, se apaixonar, sonhar... Nesse sentido, morrer, também, é
deixar de sonhar, beijar e o mais singelo: apalpar o outro com os ouvidos. Desse
modo, a vida humana encerra-se.
Para muitos, a morte
é – só de pensar – desprezível, acaba com a alegria do viver e finaliza as esperanças.
Entretanto, a morte é socorro para tantos outros que estão cansados e oprimidos
em vida – seja por um corpo moribundo, dilacerado, estuprado ou machucado pelos
hematomas provocados e
descobertos com o tempo.
Daí segue a frase da filósofa Simone de Bouvard que justifica a necessidade da
morte: “A morte parece menos
terrível quando se está cansado”. Portanto, a morte tem a sua face
positiva para os indivíduos. Ela é socorro na hora da angústia. E como é!
Mesmo tendo consciência
do seu lado positivo, travamos uma constante batalha para nos distanciarmos da
consciência do fim. No entanto, tal batalha é possível somente para os
saudáveis de corpo e alma. Na realidade, para quem não é saudável de corpo e
alma, não faz o menor sentido.
Vale ressaltar que Jean
Paul Sartre disse que estamos condenados a liberdade. Quem dera fosse apenas
essa a condenação. Ousa-se dizer que estaríamos felizes! Mas, o fato é que estamos
condenados à máxima da morte: “és o que fomos, serás o que somos”. Por isso,
breve nos ausentaremos e promoveremos saudade. Saudade é a falta que fazemos
para o outro!
Portanto, se possuímos
essa consciência sobre o fim da vida, por que não pensar no aqui e agora? Por
que não sentir o outro com total intensidade e prazer? Por que não saborear
mais as amizades, os almoços, os jantares, os vinhos, as pessoas e as amizades?
Por que não apreciarmos com intensidade e compartilharmos os instantes da vida
com quem amamos? Por que não deixar de brigas em muitos momentos e render-se
aos poucos abraços que ainda nos restam? Por que não esquecer um pouco das
bagunças da casa e apreciar o sofá de cabeça livre, sem neura? Por que não
apreciar e sentir a vida com mais intensidade?
Portanto, o que achas,
caro leitor, de ceder mais tempo para gozar alegremente a sua vida? Sim, doe
mais tempo à sua vida. Compartilhe mais os seus instantes de vida com amigos,
colegas e familiares. Sim, viva.